Eu te odeio.

Odeio por não conseguir despedir-me do que não deveria pertencer-me mais, e que leva teu nome.

As lembranças tuas são de doce insuportável misturadas neste amargo presente. O contraste embrulha o estômago, oprime o peito, dá-me gosto ruim.

Odeio-te por cair em todos os buracos que o meu amor próprio permitiu. Eu te odeio por querer-te demais, e há frustrações demais por detrás disto.

Querer-te demais é a doença e a punição que sofro enquanto desejo. Odeio-te por caminhar para o abismo. Odeio-te por sua ausência cobrar-me qualquer obrigação.

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Eu te odeio porque espero que lembres de mim no mesmo grau e intensidade; que sinta o mesmo veneno filho das tristezas. Eu te odeio porque não é isto o que realmente espero e porque de ti não tenho notícias.

Odeio-te por não saber o que fazer contigo. Odeio-te por não saber o que fazer com o tempo que sobrou. Odeio-te por perder o norte, o rumo, o lume. Eu te odeio porque não sei mais de mim como sabia.

Odeio-te por enterrar certezas, esmiuçar cansaços e calar-me para que só ele fale. Dói-me o orgulho. Doem-me as fraquezas.

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Odeio-te por não haver palavra que alivie, prazer que alivie, fuga em que eu escape, e então, levo-te comigo a me castigar. Odeio-te por não haver nada bom o suficiente, ainda que seja nítido que tudo possa ser melhor que ti.

Odeio-te pelos sintomas todos. Por estes pequenos grandes inúmeros tormentos. Por frágeis e inconstantes previsões.

Odeio-te por não ter combinado nada para ser feliz amanhã. Odeio-te porque sangro para sempre.

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Odeio-te porque fui marcado pelo amor que trouxeste. Odeio-te por não servir para outra coisa senão o amor.

Eu te odeio por isto, justamente porque te amo.

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Poeta, escritor e colunista do site Fãs da Psicanálise.

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