“Pelo menos você tentou” é o grito dos perdedores. E o mundo está cheio deles, por que você quer ser um também?
Nos últimos tempos, você pode ter decidido se juntar ao coro dos perdedores que veneram o fracasso em nome do empreendedorismo, das startups, das inovações ou seja lá o que for.
Se você se ver um dia dizendo “Como assim?! Achei que fracasso era uma coisa boa no mundo das startups!” ,então você pode ter sido infectado com o vírus do fracasso.
Não sei se há uma cura, mas você pode pelo menos tratar os sintomas.
Deixe-me começar tudo isso dizendo que minha própria vida foi repleta de fracassos.
Tive sucesso nas coisas apenas para vê-lo se transformar em novos fracassos, e eu sei que cada vitória é, potencialmente, um passo em direção a uma nova derrota. Fui infectado com o vírus do fracasso antes, e resisti em várias ocasiões aos sintomas que vou descrever a seguir.
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Fracassar é uma parte necessária de uma vida bem vivida, e ninguém que um dia alcançou a grandeza o fez sem grandes fracassos. Mas não quero continuar a falhar e não quero que você siga por esse caminho também.
Grandes pessoas não são grandes por causa de seus fracassos – elas são grandes porque, eventualmente, superaram os fracassos.
Então, como você sabe que está infectado com o vírus do fracasso? Existem cinco sinais:
1 – VOCÊ COMEÇA COM A EXPECTATIVA DE FALHAR (E ACHA QUE ESTÁ TUDO BEM…)
“Bem, se eu falhar, pelo menos eu aprenderei alguma coisa!”
A pior coisa que você pode fazer ao começar qualquer coisa é se dar permissão para falhar antes mesmo de começar.
Nos meus estudos de música, quando era mais novo, lembro que meu instrutor me disse repetidamente “a maneira como você pratica é a maneira como você irá se apresentar”. Era um encorajamento não apenas para fazer firulas, mas levar o treino a sério – boa postura, técnica perfeita, não se permitir nenhum erro. Se você cometer algum, pare, corrija-o, volte, repita até a perfeição.
Não consigo me imaginar ir até meu professor e dizer “ouça essa nota errada que eu toquei! Ela me ensinou tanto!”
Não significa que você deva tratar cada novo empreendimento como uma situação de vida ou morte – você estaria entendendo completamente errado meu conselho. Ao invés disso, sugiro que trate tudo que você começa ou tenta como uma forma de prática para o sucesso.
Todo post de blog que você escreve é uma prática para sua coluna de opinião no Wall Street Journal. Cada linha de código é prática para quando Andreessen Horowitz financiar sua startup, e, aí sim, é vida ou morte.
A dedicação para alcançar a excelência em tudo que você faz é o oposto da mentalidade do fracasso.
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Claro que erros vão acontecer. Claro que, de tempos em tempos, tudo vai explodir na sua cara. Mas não olhe para o lado bom. Não se conforme com a falha. Parabenize-se por se levantar e continuar.
Você não precisa de permissão para fracassar. Você só precisa se dar permissão para tentar outra vez. E outra e outra e outra até esquecer o sabor que o fracasso tem.
2 – VOCÊ DESISTE NO ÚLTIMO QUILÔMETRO DA MARATONA
“Não era pra ser dessa vez, haverá outra oportunidade!”
Essa é uma manifestação especial da falácia “a grama do vizinho é sempre mais verde”.
Você pensa consigo mesmo que esse momento em particular não é a sua vez e que haverá muitas outras oportunidades no futuro.
Uma coisa é perceber que você pode tentar outra vez depois de falhar sem chance de consertar o erro; outra, completamente diferente, é chegar na parte mais difícil do trajeto e começar a pensar em tomar outro caminho.
Essa é uma verdade tanto em startups quanto em relacionamentos.
Percebi que era inclinado a esse tipo de pensamento quando, um dia, analisando a maneira como jogava Civilization (a propósito, tenho quase certeza que o número de horas gastas jogando Civilization é inversamente proporcional ao sucesso). Me peguei recomeçando meus jogos nas primeiras fases, quando não conseguia pegar as vantagens iniciais que tornam o jogo prazeroso, e que se eu estivesse absorto até 75% da partida, eu parava e começava uma nova.
Quando entendi que fazia isso inconscientemente com jogos de computador, sabia que provavelmente estava fazendo com o restante da minha vida também.
Nós sempre ouvimos sobre as taxas de falência das startups em estágios iniciais.
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A razão para que a maior parte das startups fracassem é que elas têm ideias de merda sendo levadas a diante por pessoas de merda. Mas acho que a taxa de falência mais interessante a ser estudada é aquela que acontece nos estágios mais avançados, no ponto entre “praticamente sobrevivendo” e “crescendo”.
Aposto que acharíamos boas pessoas com boas ideias que simplesmente não aguentaram esse último pedaço de sofrimento e esforços sem retorno, aquelas que, na hora mais fria antes da alvorada, disseram “não aguento mais!” e desistiram.
3 – VOCÊ CORRE DE VOLTA PARA SEU PORTO SEGURO DEPOIS DE FALHAR
“Vou aceitar um trabalho assalariado por enquanto e escrever no Medium sobre tudo que aprendi.”
O fracasso real consiste apenas em desistir.
Na Exosphere nós falamos bastante a respeito da distinção entre jogos finitos e infinitos, um conceito criado por James P. Carse. Ele define um jogo finito como um jogo cujo propósito é ser terminado, declarar vencedores e perdedores e onde vencedores reclamam o prêmio. Um jogo infinito, por outro lado, é um jogo cujo propósito é se estender; o objetivo é simplesmente continuar jogando.
Gostamos de encorajar pessoas a pensar com criatividade, cientificamente, e jornadas empresariais são mais como jogos infinitos do que finitos.
Nos primeiros, desde que você não desista, não tem como perder. Nos outros, com a condição de vitória pré-estabelecida, você pode se preparar para uma devastadora e desmoralizadora derrota, que o manda de volta direto para vida, onde você pode dizer “o que poderia ter acontecido” e “se ao menos”…
Ninguém quer ouvir isso.
Kipling, em seu famoso poema “Se”, diz:
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
Quanto mais você se acomoda com seu o fracasso, mais o fracasso infectará a sua vida. A melhor maneira de provar para si mesmo e para todo mundo que você tem o que é preciso para conquistar seus objetivos é se levantar e dar o primeiro passo de novo, não falar incansavelmente sobre o passado.
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Como alguém que passou por vários fracassos no passado, constantemente me perguntam se a razão de eu não falar disso é por me sentir envergonhado. Mas não é isso. É que aqueles fracassos aconteceram com outra pessoa, com uma versão antiga de mim mesmo, cujos pensamentos e memórias eu não posso acessar. Eles não eram interessantes, afinal. Não tenho orgulho deles.
Só estou contente de estar aqui para tentar de novo e isso importa mais do que tudo que aconteceu no passado.
4 – SUA TOLERÂNCIA AO FRACASSO É EXTREMAMENTE BAIXA
“Teve essa vez em que fiquei sem Starbucks por dois dias inteiros!”
Como estudante de história, li sobre guerra, política, religião, movimentos, tecnologia, ciência, filosofia e exploração. E fiquei maravilhado com a extensão de dificuldades que grandes pessoas tiveram que enfrentar para alcançar o que elas pretendiam. Fome, colapsos físicos e mentais, calor extremo, frio extremo, risco de prisão e execução, tortura, abandono da família e amigos, ostracismo.
Só consigo pensar que humanos contemporâneos são fracos, preguiçosos e facilmente impressionados pelo sofrimento. O narcisismo da minha geração faz tanto drama sobre as dificuldades que faria a geração passada gargalhar. Eles nem saberiam o porquê de tanto drama.
Nós temos sorte de viver numa época em que temos tanto conforto por tão pouco. Isso significa que deveríamos ser capazes de perseverar mais ainda e conquistar feitos ainda mais impressionantes, mas temo que aconteça o contrário. Concordo com Ralph Waldo Emerson, quando diz em seu artigo:
“As fibras e o coração do homem parecem ter sido removidas e nós nos tornamos temerosos, chorando copiosamente. Tememos a verdade, tememos a sorte, tememos a morte e tememos uns aos outros.”
De fato, acho que nosso vício na pornografia do fracasso no mundo das startups é uma maneira de nos enganarmos e nos vermos como destemidos. “Olhe quão valentemente eu falhei!” Como se essa atitude patética merecesse crédito.
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Emerson continua a acusação que, sem dúvidas, é tão verdadeira hoje quanto foi em seu tempo.
“Nossa era não ostenta pessoas grandes nem perfeitas. Nós queremos homens e mulheres que renovem nossas vidas e nosso estado social, mas nós vemos que a maior parte das personalidades não tem crédito suficiente, não pode satisfazer os próprios desejos, tem uma ambição desmedida em comparação às próprias forças, e se encosta e mendiga dia e noite, continuamente… Nós evitamos a batalha contra o destino, onde a força nasce.”
5 – VOCÊ SOFRE POR MOTIVO NENHUM, SÓ PARA SE GABAR DEPOIS
“Vivi sem aquecedor por dois anos para economizar dinheiro.”
Nenhum sofrimento é igual ao outro. A chave para entender se você terá sucesso no seu empreendimento é examinar quais sofrimentos você pode suportar.
Sofrimento legítimo, ou seja, o sofrimento necessário à resolução de um problema, é muitas vezes evitado por pessoas que sofrem muito. É que se sofre pelas coisas erradas. Você substitui o sofrimento legítimo de ser rejeitado por 100 clientes pelo sofrimento ilegítimo de ter que reajustar suas expectativas sobre tempo e trajetória do seu sucesso.
Pense como um exercício para evitar obesidade, diabetes, câncer e doenças do coração. Exercício é um martírio para a maioria de nós, mas é um sofrimento melhor do que diabetes, certo? Comece a pensar nos problemas da sua startup ou outros aspectos da sua vida da mesma forma. Que exercício você precisa fazer hoje para prevenir diabetes em duas semanas?
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Persistência é uma virtude que depende do que é suportado, e o momento em que você começa a se dar muito crédito por sofrimento desnecessário é o momento em que você para de procurar as causas do sofrimento. É uma estrada escura que leva a um purgatório inimaginável, que se transforma num corredor místico, cheio de portas que não levam de volta ao começo do corredor.
Você se esquecerá um dia de como foi parar lá e não vai ter ideia de como sair. E nesse ponto sua única salvação será uma catástrofe que o chacoalhe e o arranque de sua miséria complacente.
Tendo eu mesmo passado por essa experiência, eu tenho calafrios só de pensar em reviver tudo outra vez enquanto escrevo esse texto. Não passe por isso. Não vale a pena, e é possível evitar.
Brutus diz em “Júlio César”, de Shakespeare:
“Existe uma maré nos assuntos dos homens.
Que, tomadas com o dilúvio, leva à fortuna;
Omitido, toda a viagem de sua vida
É ligada nos baixios e misérias.
Em um mar tão cheio estamos agora flutuando,
E devemos pegar a corrente quando ela atende,
Ou perder nossas aventuras”.
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Acho que é, de certa forma, sempre verdade a qualquer momento da minha vida e dos meus projetos – E, depois do fato, perceber que eu ainda tenho outra chance. Posso ter outras centenas de chances. Mas posso não ter.
Então, é melhor eu fazer essa vez valer a pena. E a próxima e a próxima e a próxima também.
Todas elas valem a pena.
(Autora: Skinner Layne)
(Fonte: ANO ZERO – Artigo originalmente publicado em Exosphere, e traduzido por Igo Araujo dos Santos)
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