Alguns cuidados são importantes ao tomar medicamentos durante o período da gravidez, pois algumas substâncias tem a capacidade de atravessar a placenta e causar efeitos sobre o feto. Tais efeitos incluem malformações, alterações bioquímicas e de comportamento.
Estas informações também são válidas para a ingestão de drogas.
Durante os três primeiros meses de gravidez este cuidado é fundamental pois o feto está no início de seu desenvolvimento, as células estão se multiplicando e começando a formar os órgãos. O embrião não tem ainda a capacidade plena de metabolizar e excretar as substâncias presentes nos medicamentos e nas drogas o que pode afetar seriamente o seu desenvolvimento.
Este cuidado se estende por todo o período da gravidez, pois alguns medicamentos podem prejudicar a saúde do bebê mesmo se usados após os três primeiros meses deste período.
Poucas doenças maternas justificam o uso de medicamentos. Entre elas estão incluídas a diabetes, a hipertensão e os ataques epiléptico (convulsões) e os medicamentos para combate-las devem ser consumidos sempre com a orientação médica. O médico vai avaliar o risco/ beneficio do uso destes medicamentos para que haja o desenvolvimento adequado da criança em formação.
É importante lembrar que a ingestão de fumo, álcool, cafeína e drogas são bastante prejudiciais ao bebê e devem ser evitadas neste período.
Algumas informações sobre seus efeitos estão descritos abaixo:
CIGARRO:
Prejudica o crescimento do bebê dentro do útero. O uso de 20 cigarros ou mais ao dia pode provocar parto prematuro e o nascimento de crianças com baixo peso.
ÁLCOOL
Os problemas produzidos pelo álcool ocorrem desde o início até o final da gravidez e podem variar em gravidade, dependendo da quantidade de bebidas alcoólicas ingeridas pela mãe.
Pode ocorrer retardo do crescimento, com crianças de baixo peso ao nascer ou com malformações mais ou menos graves, conhecidas como Síndrome Alcoólico-Fetal. As malformações podem ocorrer no crânio e/ou na face e são acompanhadas de retardo de desenvolvimento psicomotor (a idade mental da criança é menor do que a idade real).
TRANQÜILIZANTES
Dependendo do período da gravidez, do tempo de uso e da dose, os calmantes podem produzir efeitos diferentes. Quando a mãe usa estes medicamentos nos primeiros meses da gravidez, malformações podem ocorrer na boca, tais como lábio leporino.
Quando a mãe usa calmantes por muito tempo (até o fim da gestação) a criança pode apresentar, depois que nasce, uma síndrome de abstinência, caracterizada por tremores, irritabilidade (muito chorosa), inquietação, respiração acelerada e vômitos. O uso de benzodiazepínicos (tranqüilizantes ) nos dias que antecedem o parto faz com que o recém-nascido fique com atividade diminuída, demorando para respirar e chorar, com hipotonia (corpo mole) e com pouca força para mamar.
SOLVENTES OU INALANTES:
Presente em alguns produtos gráficos e também na cola de sapateiro, causa má formação fetal ou seja é teratogênico.
COCAÍNA
Os recém-nascidos destas mães podem apresentar baixo peso, malformações físicas ou problemas neurológicos. As malformações podem ser microcefalia (cabeça muito pequena, por pouco crescimento do cérebro) e anormalidades da retina. As crianças podem sofrer morte súbita enquanto pequenas ou podem ter dificuldade de aprendizado por toda vida.
MACONHA
O uso de maconha durante a gravidez pode causar efeitos extremamente variáveis sobre o feto, dependendo da quantidade e freqüência do uso da droga, como menor duração da gestação e crianças com baixo peso ao nascer. Em animais foram vistas complicações teratogênicas.
A HISTÓRIA DA TALIDOMIDA: um marco no uso de fármacos durante a gestação.
No anos 60 a tragédia da talidomida marcou uma época. Tratava-se de um sedativo popular na Europa e Japão, onde era prescrito para mulheres grávidas, como antiemético no alívio de enjôos matinais. Sintetizada na Alemanha Ocidental em 1953, foi usado para o tratamento de alergias, posteriormente lançada no mercado em 1956 como anti- gripal e em outubro de 1957 como sedativo.
Utilizada por milhões de pessoas em 46 países, foi um dos fármacos mais populares da década de 50. No início dos anos 60, os pesquisadores provaram que era responsável direta pelo nascimento de bebês com malformações congênitas. Estima-se que, cerca de 10 mil bebês, a maioria deles, alemães, apresentou malformações ou inexistência de braços e pernas, em conseqüência da ingestão da Talidomida, por suas mães, nos três primeiros meses de gestação. O fármaco interrompia o crescimento das extremidades nos embriões humanos e aumentava a ocorrência de natimortos. A Síndrome da Talidomida provoca malformações dos membros e também de órgãos internos, entre estes , má formação cardíaca.
A partir de 1962, a licença dos produtos contendo Talidomida foi cassada e o fármaco foi retirado do mercado. Os efeitos desastrosos da Talidomida despertaram a sociedade para os riscos dos medicamentos e a partir daí, métodos de pesquisa e políticas de aprovação de novos fármacos foram revistos com mais cuidado e critério. Este foi um exemplo perfeito de um fármaco pouco testado antes de sua aprovação.
A organização que regulamenta a classificação de medicamentos nos Estados Unidos (FDA) classificou os medicamentos que são proibidos na gravidez, de acordo com a gravidade e consequências para a vida e saúde do bebê e da mãe, que o uso de cada remédio pode trazer.
Esta classificação traz risco A,B,C,D e X, seguindo uma ordem crescente de risco de malformações fetais.
. Segue uma lista dos princípios ativos que oferecem maiores riscos:
Risco X – Acenocumarol; Warfarina; Ganciclovir; Podofilina.
Risco D – Amitriptilina; Espironolactona, Pentobarbital, Azatioprina, Estreptomicina, Primidona, Benzodiazepinas, Fenitoína, Procarbazina, Bleomicina, Fenobarbital, Propiltiouracilo, Ciclofosfamida, 5-Fluouracilo,• Propiltiouracilo, Cisplatino, Hidroclorotiazida, Tatraciclinas, Citarabina, Imipramina, Clobazam, Kanamicina,Triamterene, Clorambucil, Mebendazol, Valproato, Clorazepato, Meprobamato,vinblastina, Cortisona, Mercaptopurina, Vincristina, Daunorrubicina, Metadona, Zidovudina, Doxorrubicina, Metotrexato, Enalapril, Penicilamina.
Segundo a classificação dos medicamentos, os que têm risco X não devem ser utilizados durante a gravidez porque estudos revelaram anormalidades no feto ou evidências de risco para o feto. Os riscos durante a gravidez são superiores aos potenciais benefícios e por isso recomenda-se não usar em hipótese alguma durante a gravidez.
Os medicamentos com risco D não devem ser utilizados durante a gravidez pois não há evidências de risco em fetos humanos. Só usar se o benefício justificar o risco potencial como em situação de risco de vida ou em caso de doenças graves para as quais não se possa utilizar drogas mais seguras, ou se estas drogas não forem eficazes.
Portanto, NUNCA UTILIZE UM MEDICAMENTO NA GRAVIDEZ SEM UMA ORIENTAÇÃO MÉDICA SEGURA!
(Autora: Maria Helena Fantinati – Psicanalista e farmacêutica)
*texto escrito exclusivamente para o site Fãs da Psicanálise