É difícil lidar com algumas perdas. Quando perdemos algo ou alguém, liberamos cargas de emoções e sentimentos no momento e ao decorrer da vida. Contudo, algumas pessoas possuem certas dificuldades de diferenciar o luto da saudade, e deixam de procurar ajuda de um profissional que possa ajudá-las.
O objetivo deste artigo é identificar e mostrar aspectos emocionais e sentimentais relacionados à perda, com isso, poder ajudar a ter um olhar mais atento sobre a diferença entre luto e saudade.
Palavras-Chave: Emoção; Sentimento; Luto; Saudade; Psicologia
Saudade
“Sentimos saudade de certos momentos da nossa vida e de certos momentos de pessoas que passaram por ela.”
(Carlos Drummond de Andrade)
Segundo o dicionário, a saudade é um sentimento nostálgico provocado pela distância de (algo ou alguém), pela ausência de uma pessoa, coisa e local, ou ocasionado pela vontade de reviver experiências, situações ou momentos já passados.
Etimologia: do latim “solitas solitatis” (solidão), na forma arcaica de “soedade, soidade e suidade” e sob influência de “saúde” e “saudar”.
A Saudade é um sentimento momentâneo, porém pode tornar a sentir novamente em algum outro determinado momento. Ela pode gerar sentimento de angústia, insatisfação, nostalgia¹ e tristeza, porém quando “matamos a saudade” geralmente sentimos alegria.
Podemos “matar a saudade” de diversas formas, como por exemplo: Ver fotos; relembrar bons momentos; rever vídeos de filmagens; verbalizar com alguém; ou em alguns casos, até sonhando.
A saudade quando excessiva e quando deixada de ser transformada em sentimentos de alegria e vivida por uma intensa angústia, pode ser transformada em algo disfuncional, como por exemplo, depressão, ou até mesmo um luto não elaborado, necessitando da ajuda de um terapeuta.
¹ Nostalgia: Do grego “nóstos” (reencontro) e “álgos” (dor, sofrimento). É um termo que descreve uma sensação de saudade idealizada, e às vezes irreal, por momentos vividos no passado associada com um desejo sentimental de regresso impulsionado por lembranças de momentos felizes e antigas relações sociais. Em outras palavras, diz respeito somente a uma visão idealizada de passado que cada um possui.
Veja mais: A saudade faz mal a saúde?
Luto
“A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos que ela não existe”.
(Allá Bozarth-Campbell)
Luto é um processo de adaptação após perdermos algo ou alguém que era importante para nós, ou seja, uma perda significativa. Este processo geral ocorre principalmente no processo de morte e morrer de si ou do outro. Quanto maior o vínculo afetivo, maior será o impacto e a carga emocional dessa pessoa.
Dá-se o processo de Luto como uma intensa carga emocional, na maioria das vezes gerando angústia, culpa, raiva, tristeza ou até mesmo depressão, muitas vezes o individuo “perde o sentido para a vida”, principalmente quando o luto não é elaborado por ele. Durante este processo, um novo sentido para a vida precisa ser descoberto e construído.
Segundo o Modelo de Kübler-Ross, o luto consiste em 5 fases ou estágios, também conhecido como: “Os Cinco Estágios do Luto”, explicarei e exemplificarei cada estágio em tópicos abaixo.
Negação ou Isolamento:
Consiste na dificuldade de aceitar e/ou acreditar que a perda relacionada realmente aconteceu, utiliza-se a negação e/ou isolamento. Pode ser considerado como uma defesa contra a dor da perda. O indivíduo usa como pensamento: ‘Isso não pode estar acontecendo comigo’;
Raiva:
Utiliza-se do sentimento de raiva entorno da perda ou do perder, a pessoa sente-se inconformada, muitas vezes descontando a raiva em si ou em outro, ou até mesmo em sua crença. O indivíduo usa como pensamento: ‘Porque eu?’, ‘O que eu/ele fez para merecer isso’, ‘Não é justo’;
Barganha ou Negociação:
O indivíduo percebe ou tem o conhecimento que a raiva não resolve nada, com isso, busca-se alguma maneira de “negociação interna” como uma forma de fuga para situação, para que tudo volte a ser como antes, muitas vezes utilizando a crença. Utiliza-se o pensamento: ‘Me deixe viver, farei tudo diferente’, ‘Deixe-o viver mais um pouco’;
Depressão:
Estágio de sentimentos e emoções mais intensas, com cargas negativas, o indivíduo utiliza-se de sentimento de tristeza, culpa, desesperança, culpa, em determinados indivíduos, desenvolve a percepção que a raiva e a barganha não fazem mais sentido.
Dá-se quando o sujeito começa a tomar consciência da nova realidade que a perda traz. O pensamento presente é: ‘Estou tão triste. Porque devo me preocupar com alguma coisa?’, ‘Não quero mais saber de mais nada’;
Leia Mais: Tipos de luto: sim, existe mais de um
Aceitação:
Aceitação é o ultimo estágio, nela a pessoa não nega mais a realidade e procura aceitar a perda. Pensa em enfrentar a situação, começa a enfrentar a perda de uma forma diferente, porém na maioria das vezes não é acompanhada de sentimento de felicidade. O indivíduo utiliza-se o pensamento: ‘Seja o que for, tudo vai acabar bem’, ‘já que tem que ser assim, será’.
Vale ressaltar que os estágios não são necessariamente na ordem Negação>Raiva>Barganha>Depressão>Aceitação, e também não são todos os indivíduo que passam por todos os estágios, cada individuo enfrenta o processo de perda de uma maneira.
No processo de luto, alguns indivíduos apresentam um sentimento de culpa, que segundo Kübler-Ross (1969), pode ser considerado como o sexto estágio, mas não podemos generalizar a culpa como um processo exclusivo do luto, precisa-se analisar o contexto.
O luto pode ser encarado naturalmente pelo indivíduo, porém algumas pessoas possuem uma dificuldade maior de elaboração deste processo, podendo persistir por meses ou até anos, neste caso é necessário a ajuda de um profissional para melhor compreensão e elaboração do luto (recomenda-se acompanhamento de um psicólogo desde o processo pré-luto, ir a um psicólogo não é sinônimo de fraqueza, mas sim de grande importância).
Afinal, qual a diferença entre Luto e Saudade?
No luto, as emoções são mais intensas e duram por longo tempo dependendo dos recursos de enfrentamento do individuo, relativamente há maior grau de sofrimento. Com o passar do tempo, a pessoa vai diminuindo o sofrimento, até tornar-se uma lembrança dolorosa, até que enfim o indivíduo toma-se consciência da morte ou que algo se foi. Fazer o luto adequado é quando se consegue retomar o processo normal da vida.
Na saudade, refere-se de sentimentos e emoções momentâneas, lembrança momentânea de uma perda significativa, seja ela morte ou qualquer outra coisa, pode gerar angústia, tristeza, culpa; como também pode gerar sentimentos positivos como alegria, felicidade e amor, principalmente quando é “matado a saudade”
Conclusão: O que difere saudade e luto pode ser considerado como: intensidade das emoções e sentimentos liberados, o grau de sofrimento, os recursos de enfrentamento que a pessoa estabelece em relação à perda e o tempo (se momentâneo ‘saudade’ ou intenso ‘luto’).
Nota: Por haver poucas referências do tipo, tomei liberdade de escrever com minhas palavras algumas afirmações, porém seguindo o contexto teórico dos conhecimentos do assunto.
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Referências:
Saudade. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Saudade>, recuperado em 20 de Abril de 2015
Luto. In: Wikipédia: A enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Luto>, recuperado em 20 de Abril de 2015
Ballone G.J. – Lidando com o Lut. In. PsiqWeb, Internet. Disponível em <http://www.psiqweb.med.br/>, recuperado em 20 de Abril de 2015
Kübler-Ross, E. (1998) Sobre a Morte e o Morrer. (8a ed). São Paulo: Martins Fontes
(Autor: Felipe Fernandes)