Eu não acredito muito em empenho. A lei natural é a do menor esforço. A água, por exemplo, é movida pela gravidade. Sempre desce, seja caindo em cachoeiras, escorrendo por barrancos ou correndo dos altiplanos para a costa.
Em vez de lutar ou de gastar energia em batalhas exaustivas, ela nunca entra em confronto com as barreiras. Ao contrário, as aceita e delas se desvia, sempre em um curso descendente. Contudo, nesse percurso pode se tornar um rio enorme e poderoso, e até gerar energia.
Nas artes marciais, sendo que a quase totalidade delas é inspirada na natureza, o segredo é não resistir ao oponente, mas ceder a ele e deixá-lo ser derrotado pelo seu próprio esforço.
Mesmo os predadores preferem os filhotes e animais doentes que são mais fáceis de caçar aos animais adultos e saudáveis cuja caça significaria a perda de preciosa energia.
Eficientes predadores como tubarões, orcas e golfinhos têm corpos aerodinâmicos que não oferecerem resistência à água. A pele que reveste seus corpos, também facilita sua movimentação no meio. Diminuída a resistência, sua eficiência é aumenta.
Alguns pássaros migradores aproveitarem o vácuo do que vai adiante voando em bando e em vê. Assim, eles se cansam ou se esforçam menos e voam mais rápido.
Agora, o que mais me surpreende, é a eliminação de órgãos que seriam inúteis ou mesmo verdadeiros estorvos em determinados ambientes. Assim, peixes de cavernas não desenvolvem olhos, e lagartos que vivem enterrados na areia ou na terra podem não ter patas e, por isso, parecerem cobras.
Por essas e por outras, vejo com reservas a questão do esforço. Penso que, no máximo, cabe economizá-lo aqui para aplicá-lo ali ao exemplo de uma raça de cavalos selvagens do norte da Sibéria. Eles sobrevivem a temperaturas de setenta graus negativos se movimentando muito pouco e utilizando a energia que gastariam para se movimentar no aquecimento de seus corpos. De forma semelhante os coalas cujo alimento tem pouco valor energético, dormem quase o tempo todo.
Enfim, eu não entendo alguém precisar de força de vontade para viver. Pra mim, essa pessoa precisa é sentir que a vida vale à pena e, em consequência, ter desperta nela a vontade de viver. Daí, talvez, ela tenha disposição para exercer algum esforço se e quando necessário.
(Autor: R. C. Migliorini, professor de Arte do Movimento, diretor de cena e fui ator/bailarino. Arte-terapeuta formado pelo Instituto Sedes Sapientiae e Cientista da Religião em mestrado da Universidade Metodista de São Paulo)