Anunciamos verdades como se apenas por anunciá-las, verdades se tornassem. Buscamos legitimar palavras somente por declará-las, para acreditarmos nelas e por consequência em nós mesmos. E por acreditarmos nelas, legitimamos a nós mesmos pelas palavras que falamos, criando círculo vicioso a convencer-nos do que não somos como se fôssemos, e do que não temos como se tivéssemos. Vejam, a liberdade, visto que é assunto em qualquer lugar que se olha, mas que não se enxerga, mesmo que nela e por ela nos afirmemos, seja em mesas de bar ou de jantar. Tal qual felicidade, reduzimos a liberdade à mera palavra como estratégia para nos levarmos a muitos lugares, exceto a nós próprios. Vivemos na superfície da palavra, morando em sua ideia e a vendendo, fazendo dela sinônimos do que ela não é. Queremos ostentar pela aparência do que, na verdade, não é necessariamente aparente.
O que se pode saber pelas fotos das festas e viagens? Quais garantias temos de saber que aquele que fez ou deixou de fazer é, por esta razão, livre? Mudamos os relacionamentos, mudamos o estilo, mudamos de casa, de chefe e não encontramos a paz. Dizemos o sim para o não e o não para o sim e não encontramos silêncio. Modelamos o corpo e não encontramos alma. Repetimos os dias e não encontramos sentido. Viajamos para os mais belos lugares e nos acompanham as nossas misérias. Talvez, para além das fugas e distrações, liberdade seja a coragem em olhar-se para o que não se aparenta ou se declara, encontrando-se com seus erros, culpas e fracassos; com a sua própria fragilidade. Por isso, liberdade tem aquele que pode despedi-los de si. A liberdade tem aquele que perdoa a si e ao outro. Vive a liberdade aquele que se permite sentir, ciente de que não é preciso ser e estar por qualquer conveniência. Pois liberdade não trata de ignorar, mas de compreender. A liberdade é, sobretudo, aprender a atravessar os próprios medos e inquietações para encontrar-se consigo. Embora seja comum que o primeiro encontro conosco seja no caminho da contramão.