A sociedade contemporânea está ficando doente.

Nos queixamos de estar cada vez mais “estressados” e frequentemente usamos essa palavra para dizer que o dia foi corrido, cheio de coisas para fazer, mas isso não necessariamente gera sinais de estresse, um mecanismo fisiológico sem o qual nem o ser humano nem os animais teriam sobrevivido até os dias de hoje.

O estresse, na realidade, ocorre naturalmente em nossas vidas, em resposta aos desafios fisiológicos e psicológicos do cotidiano. Nosso corpo responde a esses desafios ativando mecanismos comportamentais, neuroendócrinos, imunológicos e metabólicos que nos ajudam a enfrentar esses estímulos “estressores”.

O problema é quando o estresse se torna disfuncional – isto é, quando sentimos que a demanda lá fora é maior do que a nossa capacidade ou energia interna para supri-la. É quando nos deparamos com nossos limites – e não os respeitamos. Isso gera vários prejuízos à nossa saúde.

Nesse contexto, Mindfulness (“atenção plena”, em português) surge como uma valiosa ferramenta para lidarmos com as situações desafiadoras do dia-a-dia sem entrarmos em combustão interna.

Mindfulness é um estado mental que emerge quando se presta atenção, de forma intencional, com uma atitude curiosa e não-julgadora. Você foca no momento presente e se deixa permear pelo que acontece a sua frente, sem se impor decisões instantâneas ou reações precipitadas.

Mindfulness, portanto, é uma habilidade que pode ser treinada com técnicas vivenciais que integram corpo e mente. Mindfulness vem ganhando interesse nos últimos anos. Apesar de ter suas raízes no Budismo, Mindfulness é uma prática laica, ou seja, é desvinculada de um contexto cultural, étnico ou religioso.

Isso permite que qualquer pessoa possa incorporá-la em seu cotidiano – como o objetivo de viver melhor e de sofrer menos. Além disso, Mindfulness se traduz em técnicas simples, acessíveis a indivíduos de qualquer faixa etária ou nível educacional, como por exemplo, a atenção plena na respiração, na qual a âncora para se focar no momento presente é o nosso próprio ritmo de inspiração e expiração.

Ou, ainda, o Body Scan (Escaneamento Corporal), na qual utilizamos nosso corpo para estarmos de fato presentes nas situações que vivemos. As intervenções baseadas em Mindfulness têm sido estudadas cientificamente e seus benefícios podem ajudar pessoas com diagnósticos de câncer, ansiedade, depressão, dor crônica, cardiopatias, entre outros transtornos relacionados ao “estresse”.

Ela também ajuda indivíduos considerados “saudáveis”, mas com níveis elevados de estresse em seu dia-a-dia, como alguns profissionais, estudantes de ponta e atletas de alto nível. Estudos com profissionais da área da saúde, incluindo equipes de Atenção Primária à Saúde, têm evidenciado que a prática da meditação pode melhorar o manejo de situações estressantes no dia-a-dia de trabalho, com menor risco de desenvolvimento de Burn-Out (síndrome de esgotamento profissional) e melhora de indicadores de qualidade de vida associada ao trabalho.

Trinta minutos diários de meditação podem atenuar sintomas de ansiedade e depressão, segundo uma nova pesquisa da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores analisaram 47 ensaios clínicos feitos até junho de 2013, com 3 515 participantes, envolvendo meditação e vários problemas de saúde física e mental, incluindo depressão, ansiedade, estresse, insônia, uso de drogas, diabetes, doenças cardíacas, câncer e dor crônica.

Eles observaram melhoras nos sintomas de ansiedade, depressão e dor depois que os participantes foram submetidos a um programa de treinamento de oito semanas em meditação Mindfulness.

O primeiro programa de Mindfulness foi criado por Jon Kabat-Zinn, professor Emérito de Medicina e fundador da Clínica de Redução do Stress e do Centro de Atenção Plena em Medicina, na Escola Médica da Universidade de Massachussets, em 1982.

Esse programa, denominado MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction) foi criado com o objetivo de reduzir os elevados níveis de estresse detectados em pacientes portadores de dor crônica – patologia que já foi chamada de “a epidemia silenciosa do mundo moderno”. As pessoas, em muitos desses casos, se sentiam isoladas e desesperadas.

Além da carga de sofrimento que carregavam pela vida – dor constante – elas também se consideravam uma carga pesada para a família, para os amigos e para os colegas. Muitas delas até perdiam o emprego ou recebiam o diagnóstico de depressão devido à dor.

Depois que seguiam todas as recomendações médicas e a dor ou o estresse permaneciam lá, se abatia sobre elas uma enorme sensação de impotência diante dessas circunstâncias e da vida em geral.

Mindfulness nos revela um caminho no qual a verdadeira reabilitação é vislumbrada – quando realizamos nossa completude na quietude de qualquer momento ocorre uma nova e profunda reconciliação com nossos problemas e o sofrimento. Essa mudança de perspectiva cria um contexto inteiramente diferente, dentro do qual podemos ver os problemas e lidar com eles, por mais graves que sejam.

Hoje, no Brasil, as intervenções baseadas em Mindfulness estão se disseminando graças a iniciativas como do Centro Mente Aberta, responsável por um programa de extensão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), cuja missão é promover e divulgar as práticas de Mindfulness como uma promoção da saúde e da qualidade de vida.

Quando estamos com a mente cheia, costumamos pensar que o caminho é “limpar a mente”. Como assim? Deixar a mente “em branco”? Parar de pensar? Nada disso. Todas essas ideias vêm à tona quando se pensa em Mindfulness e são frequentes os equívocos.

Pensar é uma atividade natural – e inevitável – da mente. O problema surge quando embarcamos em pensamentos cáusticos, que acabam determinando comportamentos dos quais queremos nos livrar ou que não queremos mais – ainda que nem sempre estejamos conscientes deles e das emoções corrosivas que eles produzem.

Mindfulness nos ajuda a termos consciência desses pensamentos e nos ajuda a manejá–los para que, efetivamente, tenhamos uma escolha diante de uma situação – e não tenhamos uma reação inserida em um piloto automático como costumamos fazer.

Sabemos que há na vida de cada um de nós não só momentos alegres e felizes, mas também momentos de dor e de tristeza e, diante deles, também temos que tentar encontrar paz e equilíbrio.

Abertura, aceitação e gentileza são algumas das atitudes fundamentais para iniciar a prática de Mindfulness e aprender a viver melhor.

Apenas quando abraçamos a vida por inteiro em sua totalidade, com todas as suas nuances, é que podemos nos sentir mais inteiros, mais completos e, principalmente, mais felizes.

(Autor:  Fernanda Berbel Migueres, 32, advogada, é responsável pelo site Sou Mindfullness, instrutora da prática certificada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP))

(Fonte: projetodraft.com)

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A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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