Raiva é uma emoção humana natural e universal, que faz parte de nós desde que nascemos. Esse sentimento nem sempre é aparente, mas ele existe em todos nós. Todos nós nascemos com o potencial para sentir e expressar raiva, porém o que nos causa esse sentimento difere em cada pessoa.

Quando falamos em vida saudável nos referimos à possibilidade de viver de forma a expressar livremente todas as nossas emoções, inclusive a raiva. Quando sentimos de uma forma e agimos de outra não estamos sendo congruentes e temos mais probabilidade de adoecer.

Na nossa sociedade, a raiva é normalmente reprimida, por ser “feio” ou “pecado” sentir raiva. Algumas pessoas acreditam que pessoas “evoluídas” não sentem raiva. Mas na realidade, todos nós nascemos com o sistema límbico que é o centro gerenciador da emoção, origem biológica neural tanto da raiva quanto do medo, portanto todos nós podemos manifestar tais sentimentos. O que acontece é que algumas pessoas manifestam mais e outras menos.

Acompanho diariamente, um dos maiores conflitos envolvendo a raiva: a relação pais, filhos e raiva. Por causa dessa interpretação do que é a raiva para nossa cultura cristã e o que ela realmente é, emocionalmente falando, tenho acompanhado muitos processos depressivos enraizados na distorção desse sentimento, principalmente quando se tratam das relações pais e filhos. É reprimido o sentimento de raiva de uma mãe, por exemplo, em relação a um filho, pois “mãe não pode ter raiva do filho, ela deve amar o filho”. Essa crença leva ao sofrimento.

Ter raiva em determinado momento de filho, de pai, de mãe, ou de quem quer que seja não quer dizer que não se ame profundamente aquele ser. Sentir raiva é natural, é momentâneo e não exclui o amor. Há uma confusão entre raiva e outros sentimentos e emoções, como ódio, rancor, inveja, etc. O que acontece é que se não sentirmos e expressarmos a raiva de forma adequada ela é distorcida e a capacidade de perdoar, de relevar, de compreender, ficam prejudicadas e aí vem o rancor, que, quando persistente, é um efeito extremamente corrosivo para nós.

Quando sentimos raiva, nosso cérebro se excita e, para nos preparar para lutar, aumenta a quantidade de hormônios do stress e os lança na corrente sanguínea. Isto enfraquece o sistema imunológico, os músculos se contraem, as veias se estreitam e o coração precisa trabalhar mais para fazer o sangue circular, aumentando o batimento cardíaco, a pressão arterial e a acidez do estômago.

A raiva, quando distorcida, mal dimensionada ou mal canalizada de fato mata ou, pelo menos, aumenta significativamente os riscos de ter algum problema sério de saúde, onde se inclui desde uma simples crise alérgica, uma grave úlcera digestiva, até um fulminante ataque cardíaco. A raiva distorcida acaba ampliando a ansiedade, que puxa a depressão, que traz o processo de somatização, enfim, os elos dessa cadeia só aumentam.

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Se nós acreditamos que os outros é que causam raiva na gente, precisamos mudar tal crença de forma rápida. É muito importante saber que ninguém provoca raiva em nós. Nós somos os únicos responsáveis por ativá-la. Ela é criada por nós e resulta da forma como encaramos o mundo e da forma como respondemos aos acontecimentos e ao contexto.

Quando acontece algo e sentimos raiva, mesmo que o evento causador já tenha terminado, a adrenalina produzida pelas suprarrenais, a fim de fornecer energia suficiente para a ação, permanece pelo menos trinta minutos circulando na nossa corrente sanguínea. Por isso demoramos a nos acalmar.

Ataques de raiva e de mau humor produzem danos sérios nas células do cérebro, envenenam o sangue, causam insônia, depressão e pânico; suprimem a secreção dos sucos gástricos e da bílis nos canais digestivos, criando gastrites e úlceras, esgotam a energia e vitalidade, causam problemas cardíacos, provocam velhice prematura e encurtam a vida.

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Num estado de raiva, o corpo libera quarenta vezes mais cortisol que o normal. Quem vive com altos níveis de cortisol tem cinco vezes mais chances de morrer precocemente.

Mas como podemos fazer diferente e controlar a raiva?

Amo esta história para refletir sobre o assunto!

Em um antigo mosteiro budista, um jovem monge questiona o mestre…
– Mestre, como faço para não me aborrecer? Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes. Algumas são indiferentes. Sinto ódio das que são mentirosas. Sofro com as que caluniam.

– Pois viva como as flores! – Advertiu o mestre.

– Como é viver como as flores? – Perguntou o discípulo.

– Repare nas flores – continuou o mestre, apontando os lírios que cresciam no jardim. Elas nascem no esterco, entretanto, são puras e perfumadas. Elas extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável… Mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas. É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora. Isso é viver como as flores.

O autoconhecimento é fundamental para propiciar mudança no comportamento atual. Pergunte-se: O que desencadeia a minha raiva com mais frequência? Liste todas as possibilidades que vierem à sua mente. Reserve a lista e procure se lembrar desde sua infância quais os fatores que mais desencadearam raiva em você ao longo do seu crescimento, do seu amadurecimento. Perceba as mudanças. Avalie se foram para melhor ou para pior.

Procure “medir” se o seu comportamento já foi mais raivoso antes, ou, se hoje o desequilíbrio é maior. Se você chegar à conclusão que hoje a raiva é ativada com mais facilidade do que antes, ou intensidade maior do que antes, há uma tendência de ficar desanimado. Esta reflexão não pode trazer culpas, pois estas não auxiliarão em nada no seu momento atual. Também não pode trazer desânimo ou impotência.

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O exercício serve para mergulharmos mais um pouco na profundeza de nosso ser. Se, ao aprofundarmos formos achando muita “sujeira”, não dá para desanimar. Nesse ponto é que precisamos de muita paixão. É um desafio, que pode tornar-se cada vez maior e que precisamos ficar bem motivados e entusiasmados com a possibilidade de crescimento, amadurecimento e da perspectiva de maior equilíbrio frente aos desafios que ainda estão por vir na nossa vida.

Vamos exercitar algumas atitudes para lidar melhor com a raiva:

– Na medida do possível, procure conviver o menos possível com fatores que sabe que desencadeiam sua raiva.

– Analise sua rotina diária, percebendo se há tempo para entrar em contato com a leveza da vida. Procure brincar mais com os erros, não ser tão exigente consigo, parar de buscar o perfeito, aproveitar pausas para escutar piadas ou ver vídeos engraçados…

– Ache sempre formas de entrar em contato com seu lado alegre, com o riso, as gargalhadas, o bom humor. O riso tem benefícios importantes!

– Faça exercícios de relaxamento, de alongamento e de meditação.

– Pense sempre em suas superações e nos êxitos que teve ao longo da vida. Quando a gente lembra de acontecimentos bons, a memória do momento que está sendo ativado vem junto, com toda a carga positiva benéfica.

– Procure em algum momento do dia concentrar-se em contrair e relaxar cada músculo do corpo.

– Preste atenção em você, aliás, muita atenção! E, pelo menos uma vez no dia vá no espelho e se elogie!

– Cultive os antídotos da raiva: as emoções positivas, como perdão, alegria, bondade, amor…

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Apaixonada por ajudar cada pessoa na sua metamorfose em um ser mais saudável, próspero e feliz! É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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