Os seres humanos tendem a normalizar comportamentos de pessoas íntimas, guardando certas reações e comportamentos em pastas rotuladas: “Apenas o jeito que ele é” ou “Tão típico dela”.
Fazemos isso porque, no momento, escolhemos permanecer no relacionamento, mesmo que a interação nem sempre seja tranquila. Algumas vezes, falhamos em reconhecer que, na verdade, estamos desculpando comportamentos que nunca deveriam ser tolerados. Pessoas com estilo de apego inseguro, cujas necessidades emocionais não foram satisfeitas na infância, fazem isso com mais frequência e por mais tempo do que pessoas com apego seguro, que são muito mais propensas a chamar a atenção de outros sobre comportamentos prejudiciais porque, para elas, isso é anormal.
Aqueles que se acostumaram a serem marginalizados, ignorados, ridicularizados ou criticados em seus lares na infância têm muito mais probabilidade de normalizar ou desculpar maus comportamentos. É um pouco como a pilha de botas e sapatos empilhados na porta da frente, à qual você fica tão acostumado que infelizmente não enxerga mais.
Ferramentas de manipulação e poder
Todos esses comportamentos são formas de exercer controle sobre você e são sinais de um desequilíbrio de poder no relacionamento, bem como pistas para as motivações da outra pessoa. Alguns deles são mais óbvios do que outros, mas o ponto principal é se você está chamando-os pelo que são ou se você está agradando, apaziguando, racionalizando, negando ou inventando desculpas. Todos nós precisamos assumir a responsabilidade por ser ou como toleramos comportamentos que não deveriam fazer parte da perspectiva emocional de ninguém.
Marginaliza seus pensamentos e sentimentos
Rir de você ou dizer que não se importa com o que você pensa que não é certo, ou que seus sentimentos não são importantes ou talvez ridículos. Ou que seus pensamentos estão errados – baseados em coisas vagas – ou que você é “sensível demais” ou “emocional demais”. Essas são manipulações, puras e simples.
Xinga ou menospreza você
Uma coisa é reclamar sobre a ação ou inação de alguém – como a pessoa não cumpriu uma promessa, manteve você esperando por uma hora, não tirou o lixo, etc. Outra coisa bem diferente é criticar o caráter de alguém, citando exemplos. Essas críticas geralmente começam com as palavras “Você nunca” ou “Você sempre”, e o que se segue é uma ladainha de tudo o que a outra pessoa acha que falta ou está errado com você. Isso não é correto, nunca. Se este é um padrão no relacionamento e você se sente humilhado ou rebaixado a maior parte do tempo, não racionalize o comportamento da outra pessoa dando desculpas (“Ele só me xingou porque estava frustrado comigo” ou “Ela realmente não quis dizer o que disse. Foi apenas o calor do momento.”). Ao inventar desculpas, você encoraja o comportamento e, sim, normaliza.
Distorce suas percepções
Este é um jogo de poder, usado por pessoas que percebem que a outra pessoa no relacionamento é mais fraca ou facilmente manipulada; os pais fazem isso com as crianças, usando a força de sua autoridade, assim como os adultos que têm a intenção de controlar. O manipulador coloca em cheque as percepções ou a visão de realidade da outra pessoa, negando que algo foi dito ou feito e, em seguida, sugere que você inventou ou não entendeu os fatos. O manipulador ataca usando o que eles conhecem sobre seu nível de confiança em suas percepções, bem como usam sua insegurança e fazem joguinhos.
Trata você com desprezo
Zombar, rir, ou fazer gestos como rolar os olhos para demonstrar desprezo por você, suas palavras e suas ações nunca é aceitável e sempre tem o objetivo de exercer controle sobre você. Todo relacionamento saudável requer respeito mútuo, e a ausência de desprezo deve ser uma regra rígida para todos.
Projeta seus sentimentos sobre você
Em seu livro Rethinking Narcissism, o Dr. Craig Malkin aponta isso como um dos estratagemas favoritos do narcisista, chamando-o de “jogo da batata quente emocional”. Em vez de reconhecer seus sentimentos e assumir a responsabilidade por eles, o narcisista projeta-os em você – tentando transformar a raiva deles na sua, por exemplo. Isso muda o equilíbrio de poder de uma maneira sutil, porque enquanto você pode ver sua raiva – seus punhos estão cerrados, sua mandíbula travada, seu rosto está corado – agora é você que está na defensiva, tentando explicar que não está com raiva.
Manipula suas inseguranças
Este estratagema é parecido com a distorção da sua percepção, mas vai mais além, a fim de fazer você ficar quieto, impedi-lo de falar livremente e mantê-lo contido e controlado. Com esse comportamento, a pessoa se aproveita do conhecimento que tem a seu respeito – de que você fica nervoso quando alguém fica com raiva, que provavelmente recua se for desafiado com força suficiente, ou que um comentário aleatório sobre seu peso o tornará dócil e arrependido, por exemplo, e o usará para garantir que você permaneça na linha. Isso pode ser mais difícil de ver, mas se for um padrão, você está navegando em um mar tóxico.
Bloquear você
A recusa em ouvir ou mesmo discutir um problema que você mencionou é um dos comportamentos mais tóxicos de todos, e tanto frustrante quanto humilhante ao mesmo tempo. A pior coisa que você pode fazer é assumir a responsabilidade pela recusa de alguém em se comunicar, especialmente ao cair no hábito de autocrítica ou se culpar por escolher o “momento errado” para iniciar uma discussão e coisas do tipo. Esse é um comportamento altamente tóxico e manipulador – essa é a verdade.
Todos os comportamentos são tentativas de controle. Eles não têm lugar em um relacionamento saudável.
(Texto original: psychcentral)
*Traduzido e adaptado por Marcela Jahjah, da equipe Fãs da Psicanálise
*Texto traduzido e adaptado com exclusividade para o site Fãs da Psicanálise. É proibida a divulgação deste material em páginas comerciais, seja em forma de texto, vídeo ou imagem, mesmo com os devidos créditos.
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