“Eu sou tão idiota!”
Muitos de nós lançamos este tipo de insulto em nós mesmos todos os dias. É mais provável que abusemos verbalmente de nós do que de outra pessoa, mesmo daqueles de quem não gostamos.
O discurso de ódio autodirigido pode levar ao estresse, ansiedade e depressão; em casos extremos, algumas pessoas até decidem se matar, embora nunca tenham sequer cogitado assassinar outra pessoa.
Por que nosso relacionamento conosco é tão diferente de nossos relacionamentos com os outros?
As diferentes escolas de psicoterapia têm diversas maneiras de descrever essa crítica interna de nossos pensamentos e ações. “Discurso interno negativo” é o rótulo da abordagem cognitivo-comportamental que pratico. Na tradição freudiana, é chamado de “superego repressor”.
Seja qual for o rótulo que damos a essas declarações, muitas vezes os ouço em meu trabalho como terapeuta. Para o bem e para o mal, nunca descobri um grau de autoaversão que corresponda às verdadeiras qualidades da pessoa ou que seja semelhante à maneira como seus amigos e a família o veem.
Maltratar-nos pode se manifestar de várias formas. Às vezes pode ser sutil, manifestado como uma negligência generalizada. Podemos sempre procurar maneiras de iluminar o dia de outra pessoa, mas nunca considerar maneiras de fazer o mesmo por nós.
Eu tratei de uma mulher que era gentil e generosa em todos os seus relacionamentos. Nós estávamos trabalhando para encontrar maneiras de ela ser pelo menos um pouco boa para si mesma, e eu apontei o quanto ela sempre se importava com a sobrinha. Ela respondeu com naturalidade: “Sim, mas é alguém que eu amo”.
A mensagem não dita em sua declaração me atingiu no fundo do estômago: “Eu não me amo”.
Nós temos um relacionamento único conosco. Ninguém mais habita nossas mentes e corpos. Quem mais está conosco a cada minuto de cada dia e conhece todos os nossos pensamentos e ações?
Podemos escolher usar esse relacionamento para o bem, tratando-nos com bondade, respeitando nossa dignidade humana fundamental, descobrindo quais são nossas necessidades e tentando satisfazê-las.
Há também meditações pelas quais podemos praticar o envio de bondade e amorosidade para nós mesmos. Elas começam enviando desejos de coisas boas para alguém de quem somos realmente próximos e que são fáceis de amar; progressivamente, elas mudam para pessoas que não são tão próximas ou que até mesmo são francamente difíceis de amar.
Muitas pessoas parecem achar estranho quando chegam à parte da meditação que as encoraja a enviar amor para si mesmas – na verdade, pode ser mais fácil enviar amor para uma pessoa de quem eles não gostam. Vi pessoas sentirem um desconforto físico real e mostrarem repúdio à ideia de enviarem amor para si mesmas, o que demonstra o quanto estamos mais acostumados a fazer o oposto.
É possível mudar. Aqui estão 3 maneiras de quebrar o hábito de autoabuso:
1- Observar como estamos nos tratando. O primeiro passo para uma maior autocompaixão é estar consciente: o que dizemos a nós mesmos? Que tom usamos? Somos gentis com nós mesmos na maneira como planejamos nossos dias? Sabemos o que precisamos para nos desenvolvermos?
2- Cultivar o relacionamento que queremos conosco. Uma vez que estamos conscientes de como estamos nos tratando, podemos nos perguntar: trataríamos um amigo ou uma criança da mesma maneira? Se não, que tipo de mudanças podemos considerar? Planeje começar com ação – os sentimentos tenderão a seguir.
3- Estender gentileza e compaixão para nós mesmos, talvez com a ajuda de alguém que nos conheça bem como um amigo, membro da família ou terapeuta. Começar a planejar coisas específicas para fazer todos os dias para mostrar cuidado por si mesmo.
A autocompaixão não é um exercício de egoísmo – na verdade, ela tende a ajudar nosso relacionamento com os outros. Pelo menos um estudo sugeriu que a qualidade dos relacionamentos está mais relacionada à autocompaixão do que à autoestima.
Pronto para fazer uma mudança? Nesta semana, veja o que acontece quando você faz a si mesmo o que gostaria que os outros fizessem a você.
(Link original: thriveglobal)
*Traduzido e adaptado por Marcela Jahjah, da equipe Fãs da Psicanálise
*Texto traduzido e adaptado com exclusividade para o site Fãs da Psicanálise. É proibida a divulgação deste material em páginas comerciais, seja em forma de texto, vídeo ou imagem, mesmo com os devidos créditos.
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