Cotidiano

Chega o ano novo e estranhamos sempre esse número. 2017?

Dois mil e dezassete, até custa a dizer. Ainda há pouco estávamos com medo do ano 2000, havia incerteza nos telejornais, temíamos que os computadores deixassem de funcionar, temíamos o fim do mundo. No entanto, do ponto de vista apocalíptico, 1 de janeiro de 2000 foi um dia como os outros, com mais ou menos ressaca.

Esperavam-se grandes acontecimentos porque tínhamos passado muito tempo a falar nisso. No imaginário pop das décadas anteriores, o ano 2000 era uma expressão, uma força de linguagem, significava um futuro remoto. Exemplo: X (substituir por dado improvável) não vai acontecer nem no ano 2000.

Durante os anos oitenta, assistíamos ao Espaço 1999 na televisão e esse era um futuro de naves individuais, raios laser, uniformes cinzentos para toda a gente. Depois, claro, atingimos 1999. E passámos um ano inteiro a comprovar que ainda faltava bastante tempo para a chegada do futuro.

Há poucas semanas, estive numa universidade, onde conheci um professor que nasceu em 1989. Os bebés que nasceram em 1999/2000 serão seus alunos em breve. Da mesma maneira, falta pouco também para que 2017 seja um número normal, um ano sem estranheza, do qual teremos memórias. Perante 2030, haverá quem recorde o conforto de 2017 com saudade.

Falta também pouco para que esse professor nascido em 1989 seja decano, falta ainda menos para que os alunos nascidos em 1999/2000 sejam professores universitários também.

Iremos engolir 2017 com todos os seus ângulos e, depois de errarmos o preenchimento da data em formulários por duas ou três vezes, havemos de aprender. Em março, já estaremos preparadíssimos para a primavera de 2017.

Acho que parte da surpresa destes anos / números acontece por nunca termos realmente imaginado que viveríamos tanto. Havia a ideia abstrata, mas o ano novo e o seu número chegam concretos e sem apelo. 2017: agora, estás aqui, habitua-te, nunca mais poderás voltar atrás.

E habituamo-nos sempre. O tempo surpreende-nos com a sua crueza, mas aceitamo-la. Somos adultos há demasiado tempo.

(Autor: José Luís Peixoto)

(Fonte: 2017 http://www.noticiasmagazine.pt/ )

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