Olá amigos,
Antes de mais nada, peço aos extremistas de plantão que leiam as minhas considerações até o final, sem arroubos de paixão por A ou por B e se possível que possamos debater ideias e não nomes, pois as pessoas boas e más passam, mas o país fica. Se não forem capazes deste ato de grandeza e desprendimento, por favor pulem as minhas letras.
Olhando as manifestações do último domingo em todo o Brasil, notadamente na cidade de São Paulo, notei três “novidades” alvissareiras que me chamaram a atenção e me deixaram esperançoso de um Brasil muito melhor: 1. O inconformismo com a corrupção; 2. A não relação do movimento com a volta da ditadura ou tomada do poder pela extrema direita; 3. A aversão à classe política de forma geral com protestos ferrenhos contra Dilma, Lula, Calheiros e Cunha (justos e já esperados) mas também à Geraldo Alckmin, Aécio Neves e Paulinho da Força (também justos, porém não esperados). Estes últimos tentaram obter dividendos das manifestações e foram rechaçados pelos manifestantes que os chamaram de ladrões e oportunistas. Sabiamente, evadiram-se rapidamente do local pois a batata estava assando. Foi gratificante constatar que o brasileiro comum soube identificar também nessas figuras, traços marcantes da doença que acomete este imenso país.
Alguns amigos me disseram que se tínhamos 1,5 milhão de pessoas nas ruas (o que não é pouco), tínhamos 200 milhões fora delas. Penso que esta é uma forma simplista de pensar, não se mede uma manifestação desta forma. Há que se pesar qual foi o alcance da manifestação e o que ela gerou de repercussão. Julgo ainda que não podemos concluir peremptoriamente nem que a maioria da população apoia o impeachment e nem que a maioria do povo brasileiro apoia a permanência de Dilma no poder. Mas, o que não se pode negar é que o clamor pelo combate à corrupção e por um Estado mais decente e eficiente ficou muito evidente, como nunca visto anteriormente, nem mesmo na campanha das Diretas Já.
Sinto, porém, que algumas coisas ainda não estão muito claras nessas manifestações e alguns erros persistem e devem ser corrigidos para que não percamos esta grande oportunidade de politizar uma grande parte da população brasileira. Por exemplo, esta coisa de ou você é petista/corrupto ou peessedebista/coxinha é ridícula e presta um grande desserviço ao país. É justamente esta polarização tosca e tacanha que a classe política quer alimentar para prosseguir com as politicalhas e canalhices que vem ocorrendo. Respeitar e ouvir a opinião do outro é a primeira regra para se chegar a um lugar melhor, pois a divisão do povo entre vermelhos e verde-amarelos não interessa a ninguém, exceção aos já citados anteriormente.
Além disto, que fique claro que, ainda que seja um clamor de grande parte da população, não basta conseguir o impeachment da Presidente ou que Lula e outros sejam presos para o país melhorar. Ressalte-se ainda que o direito à ampla defesa e ao contraditório deve ser totalmente respeitado. Não se condenam pessoas por indícios, mas sim por provas. Quem tem a minha idade ou mais, deve se lembrar do caso da Escola Base de Educação Infantil. Voltando, temos que rechaçar soluções rápidas e mágicas, pois não será assim que o país vai entrar nos trilhos. Temos que reconhecer que um processo de ampla reforma de que o Brasil carece, além de demorado, é penoso e necessita da participação de cada um de nós. A primeira coisa que devemos fazer para ajudar é deixar de lado de uma vez por todas o jeitinho brasileiro. E comecemos pelo nosso dia-a-dia. Já que o exemplo teria que vir de cima — mas não vem, que venha da população, do povo, que somos todos nós. Seja sincero (a): você para no local destinado aos idosos ou deficientes sem ser idoso ou deficiente? Você joga lixo na rua? Você é multado justamente, mas pede ao seu amigo vereador ou deputado que torne sua multa sem efeito? Você vai a um Banco e não respeita o vigilante que está cumprindo com o seu dever e não respeita a fila porque acha que o seu problema é mais importante do que daquele que está aguardando na fila e que chegou antes de você? Você entra num congestionamento e passa a buzinar como um doido e resolve sair pelo acostamento colocando em risco a vida de outras pessoas? Você chega em casa e chuta o cachorro, espanca os filhos e/ou a esposa e sai para tomar umas porque afinal ninguém é de ferro? Você não admite que uma pessoa possa pensar diferente de você e termina um assunto bruscamente mandando a pessoa para aquele lugar? Você é fechado sem querer no trânsito, mas imediatamente sai do carro para bater no motorista que te fechou? Você não tem o hábito de usar constantemente as três expressõezinhas mágicas:“com licença”, “por favor” e “obrigado”?
Se você respondeu não a estas perguntas, você está no caminho certo, tem moral e está apto para cobrar dos governantes um Brasil melhor. Mas se respondeu sim a pelo menos uma destas perguntas, você tem que primeiro olhar o seu umbigo antes de apontar o dedo, pois uma nação poderosa se faz com pequenos e grandes atos de civilidade e consciência plena dos direitos e deveres de todos.
Seja mais sincero (a) ainda: você saberia dizer agora, de bate-pronto, se o candidato em quem você votou nas últimas eleições a deputado federal e estadual, a governador e a senador estão sendo investigados por algum crime de colarinho branco? Você pelo menos se lembra em quem votou nas últimas eleições? Quais as funções que são pertinentes à Presidência da República, aos deputados e senadores e aos vereadores, ou seja, quais os papéis que esses atores devem exercer na vida cotidiana do município e do país? Quais os serviços que as diversas estatais existentes devem prestar à população e quais são os resultados sociais e financeiros dessas empresas? Por exemplo, o BNDES ou a Petrobrás, para que foram criados e quais são os resultados dos últimos 5 anos dessas empresas? Geraram dividendos sociais e financeiros ao Estado e à população ou só lhes causaram prejuízos? Se você não sabe responder a perguntas como estas, você necessita se informar mais, debater mais e entrar verdadeiramente no processo.
Precisamos debater muito as ideias, sem extremismos de direita ou de esquerda. Lembre-se que não é porque o seu vizinho não pensa exatamente como você que ele não presta, muitas vezes pode estar desinformado tanto quanto você;
Não podemos “rasgar” a Constituição em hipótese alguma, sob pena de abrimos precedentes perigosíssimos;
Não podemos perder as conquistas sociais e institucionais que conseguimos conquistar a muito custo nos últimos 30 anos;
Temos que lutar por uma reforma política e fiscal ampla e irrestrita, para vermos o nosso país ocupar o lugar que de fato merece.
Por último, e contagiado pela beleza de famílias inteiras nas ruas protestando, pacífica e apartidariamente, espero que possamos sair desta fase mais fortes e mais unidos.
RJC
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