É aquela velha história, seria bom ter uma parceria em vida, um corpo aqui perto, entrelaçando energias neste inverno, uma alma amiga para construir momentos leves e colorir os dias.

Seria muito bom ter aqui por perto um encontro simples e profundo.

Mas parece que o mundo anda complexo e raso.

É aquela velha história, está fácil tirar a roupa, mas despir a alma ninguém tem coragem.

Está fácil abrir o corpo e a casa, mas pouca gente quer compartilhar as intimidades.

Está fácil encontrar embalagens que combinam, mas não profundidades que se mergulham.

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É fácil encontrar uma companhia que se encanta com o que em mim é superfície, com a minha casquinha de caramelo. Mas é difícil alguém que entenda que minha casca é delicada demais e se quebra facilmente e dentro existe um grande mistério.

E eu aqui comigo mesma, já sei que a minha versão mais bonita e plena surge no ambiente que eu posso ser frágil, sensível e exagerada.

Mas às vezes acho que muita gente gosta do que é forte, racional e comedido.

E eu aqui sozinha, já vivo nesse lugar do simples e do profundo. No lugar de uma alma que se permite a amplitude. E gostaria de me compartilhar sim, mas só se for assim, porque eu já não consigo mais evitar dizer o que penso, não deixar transbordar meus sentimentos e engolir meus questionamentos. Eu extravaso.

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Eu aqui comigo gosto de ser livre no viver, no expressar, e muita gente confunde liberdade com libertinagem, curiosidade com fugacidade, contraversão dos costumes com descontrole, abertura para vida com entrada franca para a minha privacidade.

Aí eu também não quero que entrem!

Sozinha sou uma mulher independente, questionadora e também muito delicada.

Quero por perto pessoas que entendam que eu gosto de carinho, diálogo, espaço e respeito. E isso também é o que eu gostaria de oferecer, se possível.

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Acima de tudo eu me amo e me aceito desse jeito e quem chegar perto não pode querer menos do que isso. Porque eu já não me limito, eu me expando.

Talvez neste inverno eu não tenha um cobertor de orelha, mas não importa, porque eu sei que minha alma estará totalmente aquecida de amor próprio.

(Autora: Clara Baccarin)
(Fonte: clarabaccarin.com )
*Texto publicado com a autorização da autora

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Clara Baccarin é paulista dos interiores, nascida nos anos 80. É escritora, poeta e agitadora cultural. Faz parte do grupo editorial Laranja Original. Publicou, pela editora Chiado, o romance poético Castelos Tropicais (2015) e a coletânea de poemas, pela editora Sempiterno (2016), Instruções para Lavar a Alma. Em 2017 lança, em parceria com músicos e compositores, o álbum Lavar a Alma, que reúne 13 de seus poemas musicados. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

1 COMENTÁRIO

  1. Eu gostaria de estar ai e ser esse cobertor de Orelha seu rs , ou mesmo estar juntinho com sua casquinha de caramelo e lhe garanto que iria tratar ela muito bem. Mais você faz parte de outro mundo ou realidade e perspectiva de vida; Construir uma familia seja uma coisa ultrapassada para seu estilo de vida. Quem sabe em outra vida eu ti encontre e tenha a sorte de estar juntinho com sua casquinha de caramelo. Beijos seu Admirador secreto.

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