Quem nasceu até a década de 80 teve a sorte de viver em dois mundos diferentes, cada um com as suas peculiaridades, vantagens e desvantagens.
Dizem que nostalgia é um sintoma de quem está ficando velho e provavelmente não está lidando bem com as mudanças. Pode ser verdade, mas penso que não há nenhum problema em sentir falta de algumas coisas do passado.
Quão gloriosos foram os anos 90!
O mundo todo estava otimista com o fim da Guerra Fria. Hollywood produzia uma obra prima atrás da outra. A música era animal… Surgiram Oasis, Portishead, Nirvana, The Offspring, Green Day, Raimundos, Faith no More e tantas outras bandas e ritmos fantásticos, que eu passaria o resto da semana falando sobre isso.
A tecnologia não parava de surpreender. Surgiram os walkmans, câmeras fotográficas e filmadoras de mão, computadores pessoais, telefones celulares e todo tipo de bugiganga portátil.
Ainda me lembro do dia em que ganhei um discman de presente. A coisa tocava música em um lindo disco que era lido por um laser! Hoje é ultrapassado e a descrição parece banal, mas na época, para um adolescente que cresceu assistindo Jaspion, aquilo era como viver no futuro.
A revolução
Tudo era fantástico, mas uma coisa realmente mudou a vida de todo mundo: a internet.
Demorou um pouco, porque computadores eram caros demais e nem todo mundo sentia a necessidade de ter um, mas depois que as pessoas descobriram as maravilhas que uma linha telefônica podia trazer até a sua casa, a Internet decolou.
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No começo, só e-mails e pesquisas, que deram fim às cartas e enciclopédias. Mas depois, rapidamente a rede alcançou outros níveis e hoje há pouca coisa que não se possa fazer on-line. Você vai ao banco, faz compras, paga impostos, lê notícias, joga videogame, assiste filmes, faz cursos, procura emprego, trabalha e… faz amigos on-line.
Podem ter certeza de que se inventarem um jeito de comer pela internet, nós nunca mais vamos desligar. Algumas pessoas estão tão imersas, que já existem clínicas e especialistas em tratamentos de vícios relacionados à internet [1].
A internet mudou até a forma de nos relacionarmos uns com os outros. Nos anos 90, você tinha que ligar na casa do seu amigo, parente ou namorada para combinar uma visita, passeio ou apenas saber como estavam. Hoje, você faz isso pelas redes sociais.
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É tão prático que você se atualiza sobre a vida da pessoa sem perguntar. Já está tudo ali: ela acordou com a cara inchada, demorou para se maquiar, pegou trânsito, chegou atrasada ao trabalho, o chefe detestou, almoçou batata doce com frango desfiado que trouxe preparado de casa (porque ela é fitness), depois foi direto para a academia onde tirou um selfie no espelho com um macacão de elastano.
A foto ganhou 300 curtidas de amigas invejosas e homens no cio. Agora ela postou uma foto da capa de “A Culpa é das Ovelhas” e reclama que não está conseguindo dormir. Você até perguntaria: “Como estão as coisas?”, mas você já sabe. E amanhã será assim de novo.
Não há nenhum problema em rotinas monótonas, isso sempre existiu. Mas o que realmente aconteceu com o contato entre as pessoas?
O acesso é tão rápido e a praticidade é tanta que as relações se tornaram voláteis. Começar, manter e se desfazer de uma amizade exigem o mesmo esforço: um click. Antes, para começar uma amizade você precisava descobrir afinidades com a pessoa, cativá-la. Era algo que exigia certa dedicação. Hoje basta clicar em “adicionar”. E para manter, basta curtir regularmente as postagens e deixar algum comentário vez ou outra.
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Soa exagerado, mas não é. É comum alguém ter mais de 1000 contatos na rede social, mas se relacionar muito pouco ou nem se relacionar com eles. “Mas as pessoas ainda saem e fazem coisas juntas”. Fazem? Tem bares desabilitando o Wi-fi para ver se os clientes passam a conversar entre si. Quantas vezes uma pessoa próxima falava algo importante enquanto você estava entretido com o smartphone, e de repente: “Ah? O que você disse mesmo?”.
Redes vilãs ou amigas?
Desfazer uma amizade, ou até mesmo terminar um namoro, também ficou muito diferente. Nos anos 90 você precisaria se encontrar com a pessoa e ter uma conversa difícil. Atualmente, basta excluir e bloquear. É como se nada tivesse acontecido.
A parte boa da rede social é que você mantém contato fácil e gratuito com todos os seus amigos, não importa onde estejam. A parte ruim é que tanto faz se você é um amigo.
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Por um lado, as redes sociais são divertidas, você dá uma olhadinha no celular e de repente lá se foram duas horas rindo de memes, vídeos de gatos, baixarias e sátiras,”a zoeira não tem limites”. Por outro, já está tarde e você não lavou a louça, não limpou seu sapato, não fez o trabalho da faculdade, não leu (de novo) o livro que você começou há seis meses atrás. Alguns se viciam na internet em si, outros se viciam em procrastinar.
As redes sociais, associadas aos smartphones, provavelmente são a razão pela qual ninguém consegue ser produtivo neste século.
Talvez esteja na hora de cada um repensar a necessidade dessas ferramentas e avaliar o quanto elas realmente estão contribuindo para o seu bem estar.
Nenhuma das inovações citadas podem ser desinventadas, especialmente a internet, que nem mesmo os arrogantes governos conseguem controlar. Talvez não haja nada de errado com a nossa era e as suas tecnologias em si, mas com nós mesmos.
Você não chamaria alguém que acabou de conhecer de “amigo”, você não o convidaria para a sua casa, você não iria querer saber da sua vida, o que ele pensa, para quem ele reza e em quem ele vota. Então, para que adicionar essa pessoa?
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Você não está disponível 24hs para bater papo – ou não deveria estar. Então por que interrompe suas tarefas e trabalho toda vez que o app de mensagem instantânea se manifesta? Você não tem o hábito de ir até a sua caixa de correio a cada cinco minutos, ou de madrugada. Então por que verifica o email e notificações o tempo todo? Você não aparecia todo dia na janela exibindo o decote para pescar elogios. Por que não passa um dia sem postar as mesmas fotos de decote na rede social?
Um novo ambiente surgiu, mas quem precisa mudar somos nós. Toda ferramenta já inventada tem o propósito de facilitar as nossas vidas. Se a ferramenta não atinge esse propósito, é porque ela é inútil ou o usuário não sabe utilizar. O que é mais provável que esteja acontecendo?
Referência:
(Autor: Lucas Santana de Campos)
(Fonte: meucerebro.com)
*Texto publicado com a autorização do administrador do site
Era o que eu precisa ler.
hmm, fugiu um pouco do tema, ou eu que não entendi o título.