É comum ouvir pessoas reclamarem de cansaço no dia a dia. Mas de quanto tempo de descanso, em média, uma pessoa precisa por dia? Quem tem mais tempo para descansar? E quais são as atividades mais relaxantes para amenizar um dia cansativo?
Os resultados da maior pesquisa recente já feita sobre o assunto indicam que, para se sentirem plenamente descansadas, boa parte das pessoas precisa estar sozinhas.
O “Teste do Descanso” foi uma pesquisa realizada pela “BBC” e o Hubbub, um coletivo internacional de pesquisadores vinculados à Durham University, na Inglaterra, com o objetivo de desvendar o que significa descansar para pessoas de diferentes partes do mundo.
Ao todo, 18 mil pessoas de 134 países diferentes responderam à pesquisa, lançada em novembro do ano passado com o objetivo de entender como as pessoas gostam de descansar e se existe alguma relação entre descanso e bem-estar.
O ato de descansar está longe de ter uma definição única e direta. O verbo se aplica apenas para o corpo ou também para a mente? Na verdade, depende. Para alguns, a mente não pode descansar enquanto o corpo não estiver descansando.
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Para outros, acontece o oposto. A mente só consegue descansar após “cansar” o corpo, como por exemplo em intensas atividades físicas –16% das pessoas disseram que descansam com exercício físico.
Cerca de dois terços dos que responderam à pesquisa disseram que gostariam de ter mais tempo para descansar. Quase um terço afirmou que precisa de mais tempo de descanso do que a média das pessoas e 10% responderam que precisariam de menos tempo do que a média.
Uma das questões do teste perguntava quanto tempo as pessoas haviam descansado no dia anterior, deixando-as livres para responder da maneira que quisessem. A média foi de três horas e seis minutos.
Outra parte do teste dava às pessoas uma longa lista de atividades, perguntando quais delas seriam as três mais “relaxantes”. O resultado foi, de certa forma, inesperado. “Ler” foi a vencedora, seguida de “estar em um ambiente cheio de natureza”, “estar sozinho”, “ouvir música”, e “fazer nada”.
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O que chama a atenção é que todas essas atividades, na maioria das vezes, são feitas em situações em que estamos sozinhos. Isso poderia significar que para conseguir descansar é bom ficar longe das outras pessoas?
Encontrar amigos e familiares, conversar ou beber socialmente foram atividades que ficaram bem mais abaixo no ranking das “melhores para se descansar”.
Isso não significa que as pessoas que responderam ao teste não são sociáveis ou não gostam de estar com os outros, mas apenas que não veem isso necessariamente como uma forma efetiva de descanso.
É interessante notar também que isso se aplica tanto no caso de pessoas extrovertidas –que, muitas vezes, são definidas como pessoas que recarregam suas energias quando estão cercadas por muita gente– quanto de introvertidas.
No ranking das pessoas extrovertidas, essas atividades sociais até apareceram mais para cima, mas ainda bem abaixo das atividades consideradas “solitárias”.
Nós precisamos lembrar, claro, que escolher estar sozinho é diferente de solidão forçada. O motivo pelo qual as pessoas preferem estar sozinhas pode ser explicado pela resposta que elas deram quando perguntadas sobre o que vem à mente quando estão fazendo atividades diferentes.
“As pessoas disseram que, quando estão sozinhas, em geral elas focam mais naquilo que estão sentindo, no seu próprio corpo e nas próprias emoções”, afirmou Ben Alderson-Day, um psicólogo da Durham University, que foi co-autor da pesquisa.
A ideia de que quando as pessoas estão sozinhas, elas estão mentalmente conversando consigo mesmas é verdadeira apenas em parte, ao que parece.
“As pessoas disseram que só estavam conversando com elas mesmas por 30% do tempo”, disse Alderson-Day. “Há um indício de que quando você está sozinho, além de se desligar das outras pessoas, você tem a chance de se desligar do seu próprio monólogo interno também.”
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Mas só porque nós estamos sozinhos fazendo algo, não significa que nosso cérebro está descansando. Neurocientistas costumavam pensar que o cérebro ficava menos ativo quando as pessoas paravam de se concentrar em uma tarefa específica. Mas estudos mais recentes do século 20 feitos com escaneamento do cérebro trouxeram algumas descobertas curiosas sobre isso e comprovaram que, na verdade, os neurocientistas do passado estavam errados.
Quando estamos descansando, supostamente fazendo nada, nossa mente tem a tendência de passear pelos pensamentos e nosso cérebro acaba ficando mais “ocupado” do que quando está concentrado em uma só tarefa.
Hoje em dia, é comum ouvir as pessoas reclamarem que é difícil descansar. Mas e se não tivermos tempo suficiente para essas atividades “relaxantes”? Isso faz diferença? Possivelmente.
No “Teste do Descanso”, pessoas que tinham menos horas de descanso no dia anterior tiveram uma pontuação menor na escala de bem-estar.
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Na verdade, pessoas que não sentem necessidade de mais horas de descanso tiveram o dobro da pontuação de bem-estar se comparadas àquelas que afirmaram sentir falta de mais tempo para descansar. Isso sugere que a percepção do descanso importa. Em geral, se nós não nos sentimos “descansados”, nosso bem-estar despenca.
Pessoas com a mais alta pontuação no quesito bem-estar haviam descansado em média cinco ou seis horas no dia anterior. Mas para as que tinham tido mais tempo de descanso do que isso, o nível do bem-estar começava a cair levemente. Será que isso significaria que um descanso “forçado” –se você está desempregado ou talvez doente– não tem o mesmo impacto no bem-estar das pessoas? Talvez cinco ou seis horas seria o tempo ideal de descanso para qualquer um.
Esse levantamento só pode nos dar impressões instantâneas e pontuais no tempo. Não dá para ter certeza de que o descanso ou a falta dele teve qualquer impacto nos níveis de bem-estar. Seria possível, ao contrário, dizer que altos níveis de bem-estar poderiam fazer com que as pessoas se sentissem “descansadas”?
Independentemente de qualquer coisa, a relação entre descanso e bem-estar é impressionante.
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Foi notável perceber que, quando questionados sobre que palavras associariam com descanso, quase 9% das pessoas escolheram “culpado” ou até “estresse induzido”. Ou seja, sim, descansar faz algumas pessoas se preocuparem com o que estão deixando de fazer.
Felicity Callard, da Durham University, e diretora do Hubbub, afirma: “Nós realmente precisamos transformar esse conceito de que, quando você descansa mais, você se torna preguiçoso. O fato de que as pessoas que descansam mais parecem ter um nível de bem-estar mais alto do que as outras é uma prova da necessidade do descanso”.
Mas, afinal, quem consegue ter mais tempo de descanso? Baseado na quantidade de horas que as pessoas disseram ter descansado nas 24 horas anteriores, o grupo que menos havia descansado era, em média, composto de pessoas jovens, que tinham empregos tradicionais, às vezes com trabalho em períodos noturnos. Eles também tendiam a ter renda mais alta.
Enquanto o grupo mais “descansado” em geral era mais velho, com renda mais baixa, sem emprego ou trabalhando em dois turnos diários separados, quando as pessoas trabalham um certo número de horas, depois têm tempo livre e depois voltam a trabalhar bem mais tarde naquele dia.
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Homens estavam mais propensos a dizer que têm menos tempo de descanso do que uma pessoa normal em média, mas, na realidade, seus relatos mostravam que eles tinham tido, em média, dez minutos a mais de descanso do que as mulheres no dia anterior.
De novo, diferentes percepções de descanso podem confundir. Estar ocupado se tornou um símbolo de status na sociedade atual. Estar ocupado significa “ser requisitado”, ou seja, valorizado.
Quando as pessoas nos perguntam como estamos e nós respondemos que estamos “ocupados, muito ocupados”, quanto da nossa resposta tem realmente a ver com nosso status naquele momento? Será que as pessoas com renda mais alta tendem a querer dizer que estão “ocupadas”? Ou será que eles têm empregos onde as novas tecnologias não os permitem “desligar”?
A resposta para outra pergunta do teste pode trazer uma luz a esta questão. As pessoas tiveram de responder até onde elas acreditam que descansar é o oposto de trabalhar. A maioria das pessoas que tinham um emprego fixo responderam que sim.
Mas as pessoas que eram autônomas ou voluntárias tiveram uma tendência contrária e disseram que não. Será que ter o controle sobre seu trabalho afeta a forma sobre como o vê? O trabalho poderia ser visto como “descanso” se você realmente gosta do que faz?
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Uma análise completa das respostas será publicada até o próximo ano. Já está claro que ela trará lições para os médicos. Callard pontua que, quando eles prescrevem “descanso”, nem todo paciente irá entender essa palavra/recomendação da mesma forma.
“Existe uma necessidade clínica de ser mais explícito sobre o que você está prescrevendo quando recomenda descanso. Mas você precisa saber o que esse indivíduo, em particular, considera como descanso. Apenas dizer a uma pessoa para não fazer nada pode provocar mais ansiedade do que relaxamento em si.”
Muita gente, aparentemente, gostaria de ter mais tempo para descansar, mas talvez esse desejo nem seja com relação ao total de horas descansando ou trabalhando, mas sim com relação ao ritmo de trabalho e de descanso, com ou sem as pessoas.
Para nos sentirmos plenamente descansados, nós precisamos de um tempo sozinhos sem medo de sermos interrompidos para podermos ficar a sós com nossos pensamentos? Pelo que indica o “Teste do Descanso”, é bem possível que sim.
Se antes, dormir era sinônimo de descansar, hoje a percepção é de que o sono é uma “resposta insuficiente” para as dificuldades da vida.
(Autora: Claudia Hammond)
(Fonte: estilo.uol.com.br)