Viver bem é o tipo de desejo tão universal que se tornou um direito.
Mas não há fórmula ou mágica que o garanta, o que deixa, para cada um de nós, a difícil tarefa de descobrir e pavimentar o próprio caminho. E enquanto nos perdemos em nossas rotas – ou nos trajetos alheios – uma série de dissabores da vida aparece.
Vêm o medo, a angústia, a ansiedade, a hesitação, a revolta, a culpa, o remorso e outros azedumes e amargores capazes de complicar, perturbar, comprometer, arriscar, paralisar e até mesmo aniquilar o mais básico de tudo, a sobrevivência.
Não nos faltam ofertas para fugir ou se alienar de tudo isso: medicamentos especializados e certeiros, êxtase infinito prometido em drogas, hábitos mandatórios que atraem a tão buscada felicidade. Apenas um pequeno e fundamental problema no meio disso tudo: viver bem inclui viver mal em determinados momentos e passar por maus bocados. E o sofrimento psíquico, variável em intensidade, faz parte de todos nós, assim como a tristeza, a frustração, a impotência e o conflito.
Por mais áridos e temerosos que sejam, esses sentimentos nos constituem e representam não só a complexidade do ser humano, como sua singularidade. Cada um de nós tem seu repertório de linguagem, seu referencial de cultura e, portanto, é afetado diferentemente por cada evento, seja ele bom ou ruim. É por isso que não há uma receita que nos conduza ao estado de plenitude, às horinhas de descuido, à tranquilidade, à saúde mental.
Existe, porém, o equilíbrio e sua busca, que não só apaziguam algumas agonias e dissolvem sofrimentos, como também nos deixam mais dispostos a reconhecer, em nós, características nem tão bem-vindas e a admitir o desconhecido em nossa própria personalidade.
Temos dificuldades diárias para conciliar o contraditório e o controverso nos outros e em nós mesmos. É natural que sejam difíceis, na medida em que nos expõem nossas limitações. Elas, aliás, também fazem parte do pacote.
Acolher angústias como parte de nós, e não como doenças, é um passo importante para o equilíbrio. Questionar sobre os próprios incômodos, também. Experimentar, sem rejeição, a incoerência e o sem sentido. Mergulhar nas próprias incertezas. Viver o luto (da morte ou de uma separação) – ele é essencial para a cicatrização de feridas incomensuráveis, sem contar que libera os afetos para novas situações na vida e, com isso, o recomeçar.
Sim, a sensação é de uma guerra interior pacificada e reativada em todos os momentos. Pode ser que falte o ar. Pode ser que o choro saia, desenfreado. Pode ser que a raiva cegue. Pode ser que ela, a depressão, se desenvolva. Mas permitir-se vulnerável e identificar fraquezas é o tipo de coisa que fortalece. Ajuda a construir o caminho mencionado lá em cima.
(Autora: Amanda Mont’Alvão Veloso )
(Fonte: brasilpost.com.br )