Após tantas frustrações, dores e desilusões entendes que o teu coração continua a bater, como diria Drummond, percebes que viver é uma ordem. O dito amor, nosso forte subterfúgio, resultou inútil e o coração está seco. És triste, amargo e angustiado.

A tristeza, fardo de quem é vivo, é a tua fiel acompanhante, a única que, no meio desta avalancha, parece ter permanecido. Na verdade, o sentimento é misto, tédio, dor e, por vezes, náuseas, em suma, uma acentuada repugnância.

Homem de poucas aspirações, tinhas poucos sonhos. Por onde andam? Querias um emprego pacato lá nas bandas da cidade, aquela linda multa de olhos verdes ao teu lado e, de quando em vez, um copo de vinho com os amigos numa sexta-feira à tarde. Tudo te foi negado.

Hoje, resta-te nada senão o maço cigarros por cima dos poemas de Bukowski na cabeceira. Resta-te nada senão o vazio azuladodestas quatro paredes, resta-te nada senão a solidão.

“Dê-me mais vinho, porque a vida não faz sentido”, escreveu Bernardo Soares há anos, justificando a atua atual condição. Então bebes, fumas, lês e escreves… escreves, lês, fumas e bebes, até não poder mais.Perdeste a noção do tempo, também já não mais faz diferença. Não sabes de ninguém, tão pouco de ti. És só, no meio destes 7 biliões.

Os encontros com mundo te entristeceram e a angústia é cada vez mais visível dentro dos teus olhos. Como um mecanismo de defesa, criaste uma personalidade desconectada do mundo, um estágio de isolamento psicológico torturante. A tristeza e a solidão, os dois principais senhores mais temidos dos nossos tempos, fazem agora parte de ti e os encontros com mundo são angustiadores.

A tua mulata se foi, por isso perdeste o trabalho. Não! Perdeste o trabalho e, por isso, a multa se foi. Qual é a diferença?

Hoje, desesperado, bebes um copo, fumas um cigarro e perguntas-me: o que faço agora? Eu bebo outro copo, fumo outro cigarro, levanto os ombros e respondo: não sei.

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Jornalista, da Agência Lusa ( Agência de Notícias de Portugal), delegação de Maputo (Moçambique). “É um menino, igual a tantos, apaixonado pela escrita e cheio de sonhos. Sem grandes pretensões, escrevo o que sinto emotiva e apaixonadamente. A tinta é a dor e a fonte é o coração”. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

20 COMENTÁRIOS

  1. Qual a utilidade desse texto? Baixo astral pra caramba! A chamada nos faz pensar que será um texto que ensina a viver após as frustrações e no fim é um desabafo de quem não sabe o que fazer, com o agravante de fazer parecer natural o frustrado descambar para a bebida, o cigarro, para os vícios enfim. Decepcionante ver esse texto numa página que foi criada para inspirar as pessoas…

  2. Adriana e Mariana não é ruim o texto!!! o texto é bem escrito, bem claro e bonito!!! porém o ruim é a historia narrada sobre vidas que vivem assim… é triste esse texto e é real para algumas pessoas, infelizmente. Os psicanalistas, psicólogos sabem disso mais do que qualquer pessoa, esse texto é certamente narrado por um desses profissionais da área da psicologia, ou por um paciente deles.
    Em todo caso… Não devemos perder à esperança de sermos felizes essa é uma grande força espiritual, psíquica do homem!!! pois, a cada vez que o sofrimento bater na sua porta responda que a esperança já esta contigo e serás feliz!!!

  3. Obrigado pela sugestão de como continuar a viver após tantas frustrações. Beber, fumar, se isolar, voltar a beber, a fumar, dormir, se resignar. A crônica é um convite ao não viver após tantas frustrações. O tema proposto, convidativo a princípio, se mostrou decepcionante, FRUSTRANTE. Mas isso não é vida..é sobrevida. Pelo menos mudem o tópico deste texto. Sugestão: COMO DEIXAR DE VIVER APÓS TANTAS FRUSTRAÇÕES.

  4. Não entendi o objetivo do texto onde o título idealiza que o conteúdo seja alguma lição de vida; mas ao ler é um relato solto sem meio e fim =/.

  5. Texto muito bom! Triste, realista, cotidiano, reflexivo. É um texto para reflexão e não um texto com respostas. Quantas vezes nos deparamos nessas situações tristes, melancólicas, de angústia, de injustiça, sentido de culpa que nos tomam, se sentindo a pior pessoa do mundo e não conseguimos achar uma solução, sair disso. É importante viver a tristeza, viver o luto, para que se possa superar. Mas a saída é individual, somente você pode encontrar a sua, não há solução igual para todos. É importante lembrar que toda essa tristeza e sofrimento são temporários, o mundo gira, nada dura para sempre. Lembrar que você vai melhorar, vai superar, e cuidar para não ficar doente em depressão.

  6. Dançando no ritmo da música mais triste, sem atrever-se a mudar o passo. Não reclamo do descaminho que propõe, pois estou no mesmo ritmo, tirando o fato de estar bem cansado de Bukowski atualmente. Eu não sei se as coisas vão melhorar, o cenário global (e interior) anuncia o contrário, mas como indivíduo devo resistir talvez. De qualquer modo me consola que exista a morte, carrego sempre a bandeira dela e sou sempre leal à morte e ao amor: é só uma vez cada e eles se confundem e tem um só rosto, pois parte de minha desilusão na vida foi ter encontrado amor verdadeiro nesta minha vida repulsiva e agora eu quero estar distante para não contaminar a pureza e a vitalidade do coração de quem amo com a minha obscena carcaça humana. Li isto ontem, quando os ideais contrários a vida me sufocavam e estou lendo outra vez, embora eu não tenha concordado do seu ponto de vista.

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