Marcelo mora com a noiva em uma casa em Ubatuba, no litoral de São Paulo. Um lugar cercado pela exuberância da Mata Atlântica. Cheio de passarinhos coloridos.
O carioca Fábio vive em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Em comum, eles têm a idade: 32 anos e uma doença que não tem cura: esclerose múltipla.
A ciência ainda não conhece as causas, mas sabe que a esclerose múltipla é uma doença crônica que atinge vários pontos do sistema nervoso central.
Ela ataca uma espécie de proteção dos neurônios provocando inflamações. O curioso é que o ataque é feito pelas células que deveriam proteger o organismo.
No mundo, cerca de 2,5 milhões de pessoas sofrem de esclerose múltipla. A doença atinge principalmente adultos jovens e provoca muitas limitações, como dificuldades motoras e sensitivas.
“Eu tinha dezessete anos e um médico virou e falou: ‘você tem uma doença que não tem cura, tu tem que conviver com ela até o fim da sua vida’. Eu já me senti morto”, disse Fábio Rodrigues Antunes, aposentado.
“Foi uma experiência bem traumática você descobrir com vinte e sete anos que você pode ser portador de uma doença como esclerose múltipla”, destacou Marcelo Palma, engenheiro ambiental.
O susto foi grande também para a família Rodrigues. A mãe de Fábio, poucos dias antes de morrer, gravou uma entrevista contando como se sentiu diante da fragilidade do filho.
“Ele ficou internado. Em sete dias, ele emagreceu sete quilos. Eu vi meu filho morto numa cama de hospital, meu filho não conseguia nem beber água, não tinha força pra nada”, afirmou Maria José Rodrigues, mãe do Fábio.
Globo Repórter: Teve que internar?
Marcelo: Sim, tive 12 internações para tomar pulso, terapias em seis meses, que é justamente para tratar essas lesões inflamatórias.
Quinze anos se passaram e os sintomas de Fábio só pioraram. Surtos imprevisíveis. Perda da visão. Chegou ao ponto de não conseguir mais caminhar e foi parar numa cadeira de rodas.
“Caramba, ser dependente de uma cadeira de rodas pra fazer o que eu quiser”, comentou Fábio.
Foi quando Fábio e a mãe ouviram falar de um método alternativo usado pelo neurologista Cicero Coimbra, da Unifesp – Universidade de São Paulo – para tratar seus pacientes. O tratamento? Superdoses de vitamina D, que, segundo os médicos, é na verdade um hormônio.
“A vitamina D, ela é muito mais do que uma vitamina, muito mais do que um hormônio, ela controla 10% das funções das nossas células e de todas as nossas células, inclusive do sistema imunológico”, ressaltou doutor Cícero Coimbra, neurologista.
Segundo o doutor Cicero, um ferrenho defensor da vitamina D, já há quase cinco mil publicações no mundo somente sobre os benefícios da vitamina D no tratamento da esclerose múltipla. Mas ele foi o primeiro e hoje é um dos poucos médicos a tratar a doença exclusivamente com ela.
“E essas pesquisas estão mostrando exatamente isso: quanto mais baixo for o nível de vitamina D, mais virulenta é essa doença. Quanto menos baixo, menos virulenta é essa doença, então porque não usar isso como um recurso terapêutico? Foi isso que nós fizemos, nós aumentamos os níveis de vitamina d até chegar a um ponto em que a doença entra em remissão permanente, ela fica literalmente desligada”, explicou doutor Cícero.
“E em um mês eu senti uma diferença absurda no meu corpo. Eu já me senti outra pessoa, uma outra disposição, não dá pra explicar a melhora, fiquei mais forte, voltei a ganhar meu corpo, voltei a me sentir vivo. Uma coisa que não tem como explicar, rápido”, disse Marcelo.
“Foi voltando a falar com mais clareza, foi conseguindo se firmar em pé com mais firmeza, com mais precisão, começou a caminhar com a muleta”, lembrou a mãe do Fábio.
“Só de eu poder tomar meu banho sozinho sem ter que ficar chamando a minha mãe. ‘Mãe, tomar banho e tal, coloca o banho pra mim’, poder fazer, é tudo”, contou Fábio.
A recuperação de Fábio não foi total como a do surfista Marcelo. E há uma explicação para isso, segundo o doutor Cícero. Marcelo iniciou o tratamento oito meses depois do aparecimento dos primeiros sintomas da esclerose múltipla. Fábio só começou a se tratar com as doses maciças de vitamina D, 15 anos depois da doença instalada.
Globo Repórter: Isso faz alguma diferença?
Doutor Cícero: Faz, faz uma diferença muito grande, porque a vitamina D consegue, em altas doses, reverter sequelas recentes, mas sequelas antigas ela não consegue reverter.
A vitamina D é fundamental para a saúde. Atinge todas as células e é responsável pela fixação do cálcio nos ossos.
Tomar sol é a forma natural de obtermos a vitamina D, mas nem sempre é possível. E a medicina está descobrindo que a vitamina D tem muitas funções: até mesmo na prevenção do câncer.
As doses ideais, no entanto, dependem de cada caso.
As doses variam de 20 mil até 150 mil para grande maioria dos pacientes, raros precisam de doses maiores do que essas e, sim, é absolutamente fundamental que se faça uma dieta.
Globo Repórter: Por que?
Doutor Cicero: Porque o grande efeito colateral da vitamina D é forçar uma absorção excessiva de cálcio a partir dos alimentos, a ponto de calcificar os rins e fazer com que a pessoa perca a função renal.
Globo Repórter: Quer dizer, pode ser prejudicial?
Doutor Cicero: É. Ela perde a função renal, ela pode chegar ao ponto de ir para uma máquina de hemodiálise.
É por isso que o tratamento com as superdoses de vitamina D pode parecer simples, mas não é e exige um cuidadoso controle médico, exames constantes, dieta rigorosa e um delicado equilíbrio das doses.
“O meu filho é a prova viva de que ela faz efeito”, disse a mãe de Fábio.
Os relatos são impressionantes. Os pacientes quando melhoraram, abandonaram definitivamente o tratamento convencional. Remédios que provocam efeitos colaterais devastadores. Mesmo assim, as entidades que representam os neurologistas ainda não aceitam o tratamento da esclerose múltipla somente com a vitamina D da forma como o doutor Cícero trata.
Doutora Doralina G. Brum Souza, neurologista, diz: Faltam estudos para dizer ‘será que os pacientes com doenças autoimunes precisam de uma dose fisiológica diferente da população saudável?’ Não tem resposta. ‘Os pacientes com esclerose múltipla metabolizam essa vitamina D de forma diferente da população saudável?’
Globo Repórter: O que seria necessário para a academia aceitar o uso de altas doses de vitamina D no tratamento da esclerose múltipla?
Doutora Doralina: Que essas altas doses fossem aplicadas em estudos bem padronizados cientificamente, que significa randomizado, duplo-cego.
O doutor Cícero, que começou a usar a vitamina D há 10 anos, tem atualmente cerca de 1,5 mil pacientes de esclerose múltipla. Muitos vindos de outros países.
Segundo ele, 95% apresentaram uma resposta muito boa. Como mostram as ressonâncias de Marcelo.
As lesões no cérebro e na medula são muito claras. Antes e depois da vitamina D.
“Permaneceram cicatrizes, mas diminuíram muito a extensão da área lesada”, contou o doutor Cícero.
Esses resultados, segundo doutor Cícero, é que indicam que ele está certo e que a vitamina D logo vai se comprovar como o caminho mais correto e barato para tratar a doença. Para ele é só uma questão de tempo.
“Isso é uma coisa que tem que ficar absolutamente clara, as pessoas que tem doenças autoimunitárias e estão com deficiência do principal regulador do sistema imunológico, que é a vitamina D, elas têm que receber vitamina D e não há como você chegar e dizer que precisa de um estudo controlado, porque se você tivesse por exemplo um filho seu com esclerose múltipla, você jamais colocaria essa pessoa, aceitaria que ela fosse para o grupo placebo, para mostrar o quanto ela iria mal”, explicou doutor Cícero.
Globo Repórter: O senhor chegou a pensar um dia que ele ia ficar pior? Ia piorar a vida?”
Sergio Palma, eletrotécnico: Sim, com certeza. Os diagnósticos, todos eles, apontavam para uma situação muito difícil. E há 4 anos, meu filho está como sempre foi, um jovem feliz, alegre, saudável, fazendo o que sabe, trabalhando, fazendo surf, que é o objetivo maior da vida dele, então nós estamos muitos felizes.
Globo Repórter: Tirou um peso do coração?
Sergio Palma: Nossa, um peso enorme.
Globo Repórter: Você se sentiu de novo vivo, inteiro?
Marcelo: De novo vivo, inteiro, capaz de surfar, trabalhar, viver sem pensar e poder fazer planos.
“Eu ficava sonhando em estar bem e com a vitamina D eu estou voltando a ter o que eu tinha antes, quando jovem, adolescente, eu fazia de tudo e agora já fico fazendo planos para o futuro”, disse Fábio.
Globo Repórter: E a senhora tem esperança de que ele vá melhorar mais ainda?
Dona Maria José: Com certeza, com certeza.
Globo Repórter: O que a senhora imagina ainda?
Dona Maria José: Eu imagino meu filho não precisando mais de mim para poder sair, poder fazer isso sozinho.
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Fonte: g1.globo.com